A era do streaming trouxe consigo uma revolução silenciosa na forma como as televisões nos observam, um novo relatório do Centro para a Democracia Digital (Center for Digital Democracy – CDD) revela como as televisões ligadas à Internet transformaram-se em sofisticados dispositivos de monitorização, recolhendo dados detalhados sobre os hábitos de visualização e comportamentos dos consumidores.
O documento de 48 páginas expõe como os fabricantes de televisões inteligentes implementaram tecnologias de reconhecimento automático de conteúdo (ACR), permitindo a criação de perfis digitais pormenorizados sobre cada espectador, estes perfis incluem não apenas as escolhas de programação, mas também informações sobre identidade, padrões de compra e comportamentos tanto online como offline.
“O que começou como uma simples evolução tecnológica transformou-se numa intrusão sem precedentes na privacidade dos consumidores”, destaca o relatório, que revela que apenas 29% dos espectadores consideram relevantes os anúncios exibidos nas plataformas de streaming gratuitas com publicidade.
As empresas estão a desenvolver técnicas publicitárias cada vez mais sofisticadas, incluindo, inserção virtual de produtos em tempo real, utilização de inteligência artificial generativa para criar anúncios personalizados, recursos interativos integrados com redes sociais e opções de compra direta através dos anúncios.
Face a estas descobertas, o CDD enviou cartas às principais entidades reguladoras norte-americanas, incluindo a Comissão Federal de Comércio (FTC) e a Comissão Federal de Comunicações (FCC), solicitando, uma maior transparência na recolha de dados, políticas de privacidade mais claras, limitações na recolha de informações pessoais e padrões de segurança mais rigorosos.
No contexto europeu, onde o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) oferece algumas salvaguardas, estas revelações são particularmente relevantes para os consumidores portugueses, que cada vez mais adoptam serviços de streaming e televisões ligadas à Internet. À medida que a indústria de streaming continua a evoluir, torna-se crucial estabelecer um enquadramento regulatório que proteja eficazmente os direitos dos consumidores. O relatório sugere que apenas através de uma regulamentação robusta e transparência significativa será possível garantir que a televisão conectada sirva os interesses dos cidadãos sem comprometer a sua privacidade.