É costume dizer-se que alguém que anda sempre distraído e/ou pensativo tem a “cabeça na lua”. A lua, essa nossa eterna companheira de céu, brilhante nas noites de verão e colossal em noites de lua cheia, desde sempre despertou o que de mais mágico e emocional há em nós.
As antigas civilizações fizeram dela desde sempre um relógio útil e o seu intervalo entre os quartos crescente e minguante constituiu a base de muitos dos seus calendários.
Curiosamente, se pensarmos um pouco sobre as parecenças que tem o nosso modo de contar os dias, e as fases da lua, deparamo-nos não só com o facto de que o mês tem 30 dias, sendo esse o número aproximado de dias do ciclo lunar, mas também com o facto que para nós cada dia termina quando o sol se “põe” e a lua sobe. Para além disso alguns historiadores defendem ainda que, a palavra “month” têm origem na mesma raiz indo-europeia proveniente da palavra “moon” (lua).
A Lua tem sido o tema e inspiração para as mais diversas obras de arte e literatura, constituindo-se como motivo recorrente nas artes visuais e cénicas, poesia, literatura e música, sobretudo porque em muitas das culturas pré-históricas, a Lua era considerada a personificação de uma divindade ou de outro fenómeno sobrenatural.
Ainda nos dias de hoje se assiste ao estudo da astrologia, onde as interpretações astrológicas da Lua surgem associadas a ciclos de mudança e transformação. Neste campo esotérico a Lua simboliza a mulher do Sol, sua filha ou sua irmã, conforme os mitos.
Associada a uma panóplia de mitos e histórias sobre a Lua, aparece ainda a relação que muitos filósofos diziam existir, entre a loucura e as fases da lua (em especial fase de lua cheia), sendo até a palavra loucura derivada do termo latino “Lua”.
Mas a lua deixou de ser mistério quando os primeiros astrónomos e astrofísicos se começaram a debruçar sobre ela. Com a necessidade de compreensão dos seus ciclos foram estudando a ocorrência de eclipses ao longo de vários anos, bem como a sua posição no céu, conseguindo até reunir informação que permitia prever (ainda que com alguma incerteza) a ocorrência de eclipses solares e lunares.
Ao longo de vários e extensos anos foram decorrendo vários estudos sobre a lua, mas os filósofos conseguiram sobrepor-se aos astrólogos e chegaram a conclusões mais próximas daquilo que hoje sabemos que é a lua. Como exemplo temos Anaxágoras que argumentou que o Sol e a Lua eram rochedos esféricos gigantes e que a Lua refletia a luz solar, Ptolomeu que calculou a distância da Lua à Terra de forma muito aproximada dos valores exatos que temos hoje e ainda Arquimedes que inventou um planetário através do cálculo de deslocações da Lua e dos planetas conhecidos.
Todos estes filósofos e matemáticos, alimentados pela sua curiosidade, abriram as portas à invenção constante e progressiva dos mecanismos de estudo da lua. Bastante tempo depois, em 1609, Galileu tornou-se um dos primeiros estudiosos a cartografar a Lua através de um telescópio identificando que a sua face possuía montanhas e crateras. Seguem-se várias cartografias e estudos feitos maioritariamente através de telescópio, permitindo a obtenção de sistemas de nomenclatura de características lunares, bem como da sua estratigrafia.
Atualmente sabemos muito mais sobre a Lua. Já sem mistério, sabemos não só que ela é o único satélite natural da Terra e que possui 27% do seu diâmetro e 60% da sua densidade (e que foi formada há cerca de 4,5 mil milhões de anos, pouco tempo depois do que se crê que tenha sido a formação da Terra), como também que a sua gravidade está associada à origem e regulação das marés.
Mas a curiosidade não era só uma característica dos estudiosos da antiguidade. Em 1959, a União Soviética lançou o Programa Luna, com o intuito de alcançar a Lua com sondas não tripuladas. Anos mais tarde, e para não ficar para trás, os Estados Unidos da América tentaram igualar o feito, e lançaram o Programa Apollo, realizando várias missões tripuladas à lua, entre 1968 e 1972. A concretização destas missões permitiu recolher mais de 380 quilogramas de rochas lunares que têm sido usadas com o intuito de estudar de forma mais aprofundada a origem, história geológica e estrutura interna da Lua.
Desde a altura em a missão Apollo foi lançada, nunca mais pararam as tentativas de enviar sondas espaciais ao satélite natural da terra, com o intuito de permitir uma análise cada vez mais detalhada da superfície lunar, bem como de averiguar a existência de água nas suas crateras (que já se veio a confirmar).
No momento atual encontramo-nos a explorar não só a Lua. O “hoje” configura-se como a não existência de limites ao conhecimento. As novas tecnologias permitem-nos chegar, onde os nossos antepassados nunca sonharam, que alguma vez chegaríamos. Ao terem a “cabeça na lua”, e ao analisarem e estudarem apaixonadamente os fenómenos que desconheciam, abriram as portas à inovação que hoje em dia nos leva além-fronteiras do nosso planeta.
O “Ontem” era o que nos rodeava, o “amanhã”, esse, está por cima das nossas cabeças.