O Natal não é só de luzes e presentes, é também de armadilhas e fraudes
O cheiro a canela, as luzes cintilantes e o burburinho das compras de última hora são o cenário perfeito, também, para os cibercriminosos. Enquanto as PMEs portuguesas preparam-se para fechar o ano com vendas e balanços positivos, os burlões afinam as suas estratégias. Segundo dados recentes, as fraudes durante a época festiva aumentaram 25% em 2024 nos EUA, com prejuízos superiores a 12,5 mil milhões de dólares, e Portugal não escapa a esta realidade. Só em 2024, empresas portuguesas perderam milhões de euros em fraudes, desde faturas falsas até golpes que usam vozes clonadas de funcionários para roubar dinheiro.
Mas como é que um pequeno empresário em Braga, Porto ou Lisboa pode blindar o seu negócio? A resposta não está só na tecnologia, mas também na atenção aos detalhes humanos, o elos mais fraco (e mais explorado) pelos criminosos.
As Burlas que Cheiram a Natal (e a Descuido)
a) Phishing e Smishing, O “Presente” que Ninguém Pediu
Os colaboradores recebem um email ou SMS urgente, “A sua fatura da EDP está por pagar. Clique aqui para evitar o corte de energia.” Ou então, “O Banco de Portugal detetou uma transação suspeita. Confirme os seus dados aqui.”
- Como funciona? Links falsos redirecionam para páginas idênticas às oficiais, onde roubam credenciais ou instalam malware.
- Exemplo: Em 2024, uma PME de Aveiro perdeu 18 mil euros após um colaborador inserir dados bancários num site falso de um “fornecedor habitual”.
b) Falsos Fornecedores e Produtos Fantasma
“Oferta exclusiva, 50% de desconto em stock de Natal!” Anúncios tentadores em redes sociais ou emails prometem produtos que nunca chegam. Ou pior, chegam caixas vazias ou mercadoria falsificada.
- Alvo preferencial: Lojas online, restaurantes e empresas que compram matérias-primas para a época festiva.
c) MB Way e Transferências Relâmpago
“Urgente! O cliente X quer pagar a encomenda por MB Way. Envie-me o seu número de telemóvel.” Parece inofensivo, mas pode ser um golpe para drenar contas ou criar pagamentos fraudulentos.
- Dado alarmante: Em 2025, as queixas por fraudes com MB Way aumentaram 40% em Portugal, segundo a DECO.
d) O Teletrabalho como Porta de Entrada
Com equipas a trabalhar de casa ou em horários flexíveis, os cibercriminosos exploram redes domésticas menos seguras ou emails pessoais para aceder a dados da empresa.
Manual de Sobrevivência para PMEs
a) Formação, A Sua Melhor Defesa
A formação da equipa é a sua melhor defesa contra fraudes. Uma estratégia eficaz é simular ataques, enviando emails de teste aos colaboradores para identificar quem cai na armadilha, ou seja, quem “morde o isco”. A regra de ouro a transmitir é clara, “Se é urgente demais para verificar, é suspeito demais para confiar.”
Para apoiar as empresas, o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) disponibiliza formações online gratuitas, uma ferramenta valiosa para preparar as equipas e reduzir riscos.
b) Verifique, Verifique, Verifique
Verificar tudo, e mais do que uma vez, é a chave para evitar burlas.
Antes de agir, confirme sempre faturas e pedidos inesperados por telefone, mas apenas para um número que já conheça e confie. Se receber um email ou mensagem a pedir alterações de IBAN ou pagamentos urgentes, pare e ligue para validar a informação.
Quanto a novos fornecedores, faça a sua pesquisa, consulte o Portal da Queixa ou o Google Maps para verificar se a empresa existe de facto. Se não encontrar uma morada física clara, desconfie.
Na hora de pagar, opte sempre por cartões de crédito, que permitem contestar transações em caso de fraude, ou por plataformas seguras como PayPal ou Stripe, que oferecem proteção ao comprador. Nunca use métodos de pagamento sem garantias, como transferências diretas para desconhecidos.
c) Segurança Digital Básica (Mas Eficaz)
Pequenos gestos de segurança digital podem fazer uma grande diferença.
Comece por reforçar as passwords, exija que todos os acessos à empresa tenham autenticação em dois passos, uma barreira extra que dificulta a ação de cibercriminosos.
Não se esqueça dos backups, guarde sempre cópias de segurança dos dados mais importantes da empresa fora da rede, preferencialmente num disco externo, para evitar perdas em caso de ataque ou falha técnica.
Por fim, cuidado com as redes públicas, os colaboradores devem evitar usar Wi-Fi público para aceder a informações sensíveis da empresa, pois estas redes são alvos fáceis para roubo de dados.
d) Redes Sociais, Menos é Mais
Nas redes sociais, o melhor é seguir a regra, menos é mais.
Evite publicar fotos de equipamentos, faturas ou detalhes das rotinas internas da empresa. Estas informações, aparentemente inofensivas, podem ser usadas por criminosos para criar golpes personalizados e convencer colaboradores ou clientes a cair em fraudes.
Se decidir anunciar promoções de Natal, esteja atento, este tipo de publicidade pode atrair não só clientes legítimos, mas também falsos interessados ou até concorrentes desleais. Tenha sempre um plano para verificar a autenticidade de novos contactos ou pedidos suspeitos.
Checklist Rápido, A Sua PME Está Preparada?
- Todos os colaboradores sabem identificar um email de phishing?
- Tem um protocolo para verificar alterações de IBAN ou pedidos urgentes?
- Usa autenticação em dois passos em todos os acessos remotos?
- Faz backups regulares dos dados críticos?
- Evita publicar informações sensíveis nas redes sociais da empresa?
Para Refletir (e Agir)
O Natal é época de generosidade, mas também de oportunismo. Os cibercriminosos não tiram férias, pelo contrário, trabalham a tempo inteiro para explorar a pressa, a distração e a boa-fé dos empresários. A diferença entre ser vítima ou sobrevivente está nos detalhes.
E na sua empresa, já falaram sobre isto hoje?