Uma citação do José Mourinho:
“Estamos numa fase de contradições. Muitos dizem que, como o conhecimento está disponível para todos, temos gerações de pessoas bem informadas e preparadas. Eu discordo. (…) Quando o conhecimento está à disposição de todos, algumas pessoas ficam numa zona de conforto. Quando o conhecimento não está à tua disposição, tens de pensar. Tens de ser tu a produzir conhecimento.”
Eu sei que muitas pessoas não publicam online, nem sequer partilham com elas próprias, guardam no subconsciente, tudo aquilo que olham como defeito, ignorância e limite. O “eu não sou esse ideal”. O “eu não sei”. O “eu não sou capaz”.
Eu também sonhos vidas perfeitas. Mas, também sei e admito que sou imperfeito. Por isso, procuro ter expetativas pessoais realistas.
Confesso. Eu não sei ir ao Oceano Atlântico. Não sei. Não sou capaz. Qual a relevância desta confissão? Leia um pouco mais e entenderá.
Habitualmente, vou a uma praia, próxima de Lisboa. Vamos imaginar que vou a Sesimbra. A minha praia é minha. Não vou partilhá-la com vocês. E Sesimbra serve para imaginar uma praia. Imagine a sua praia, porque qualquer praia serve.
Gosto de percorrer a areia da praia a pé. Não que existam muitas alternativas para viajar pela areia da praia… Mas, gosto mesmo da sensação de sentir a areia molhada nos pés descalços, na zona de varrido, onde as ondas do mar borbulham suavemente sobre a areia, umas vezes mais acima, outras vezes mais abaixo. Eu sei que é água do Oceano Atlântico. Mas, eu não sou um peixe. E não sei nadar. Quando vou à praia, fico pela areia.
E, mesmo que eu entre pelo Oceano dentro, e até mergulhe com os olhos abertos, não regressarei do Oceano Atlântico a conhecê-lo, mas um pouco enojado a pensar na água poluída que engoli. O Oceano Atlântico não cabe num copo. Não posso guardá-lo no frigorífico.
Eu não sei ir ao Oceano Atlântico?! Mais uma vez, qual é a relevância desta confissão, se o artigo é sobre o José Mourinho e a Sociedade da Informação?
O Oceano Atlântico é a Sociedade da Informação. A informação não cabe num copo. Não podemos guardá-la no frigorífico. E, se você tentar guardá-la no disco do seu PC, prepare uma visita à pc.clinic. Você causou uma gastroenterite informática.
Até podemos saber nadar, mas nadamos à velocidade que escrevemos no teclado do computador. E até podemos saber ler. Mas, um texto de cada vez.
O José Mourinho menciona contradições. E afirma que “Muitos dizem que (…) o conhecimento está disponível para todos”, o que, para mim, significa que o próprio José Mourinho não diz isso, ele não é ego para dizer o que ele pensa através de terceiros. Tem razão. O conhecimento não está disponível para todos.
Há informação grátis na internet. Li não sei onde. Nem quando. Mas, lembro. Quando é grátis, você é o produto.
Mas, há excepções. O Wikipedia é um exemplo extraordinário. Numa entrevista de emprego recente, uma licenciada em Comunicação Social fez questão de excluir o Wikipedia como fonte de qualquer informação, porque aprendeu na Faculdade que não podia usar o Wikipedia. Eu uso o Wikipedia. É uma fonte. O problema maior é usar apenas uma fonte ou depender excessivamente duma especilização numa determinada ciência.
Também comprei hoje um livro na Amazon. Custou $267. É sobre biofísica. E não é grátis. Eu sei que não é grátis. Às vezes, até dói. A novidade, a informação valiosa, tem preço. Tem autor. E autor é pessoa. Logo, precisa de bens materias. Carro. Casa. Sustento. Luxo. Você não precisa? O seu trabalho é grátis? Obviamente não.
Podemos afirmar sem contestação que a informação não é acessível a todos.
Nem ao próprio hacker que passa o dia à frente dum computador, e que agora mesmo está a fazer download de cópias piratas de livros que compramos no Amazon, porque o próprio acto de aprender começa com uma pergunta. E, para esse simples acto inicial de perguntar, é preciso pensar. Nem sempre lemos o livro certo.
Não vamos encontrar no Google uma solução para cada um dos nossos problemas, no formato de receita:
- Dê 3 passos para a frente;
- Salte o mais alto que puder;
- Aperte o nariz;
- Dê 2 passos para trás;
- Puxe as orelhas;
- Avançou 1 passo.
E, mesmo que haja uma receita para um desses problemas, essa receita não é suficiente. Enquanto caminhamos pela vida, a paisagem vai mudando, o próprio caminho é diferente, não existem loops onde ficamos presos a viver várias vezes o mesmo dia e onde podemos repetir todos os acontecimentos desse dia até aprendermos a viver o dia perfeito.
Temos que pensar, usar a inteligência e a experiência para adaptar o que aprendemos a situações novas e para encontramos soluções novas para problemas recorrentes e antigos.
O José Mourinho tem razão:
“Tens de pensar.”