A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, lançou um alerta contundente sobre o futuro do estado social europeu, advertindo que, sem medidas decisivas para reverter o declínio do crescimento económico, a União Europeia poderá enfrentar sérias dificuldades para manter os seus sistemas de proteção social, o aviso surge num momento particularmente delicado para a economia europeia. Segundo projeções do FMI, o crescimento médio anual do PIB europeu para o período 2020-2029 deverá fixar-se em apenas 1,45%, consideravelmente abaixo dos 2,29% projetados para os Estados Unidos. Esta disparidade, que se acentuou desde a crise financeira global e particularmente após a pandemia de COVID-19, levanta questões fundamentais sobre a sustentabilidade do modelo social europeu.
A análise técnica da situação revela múltiplos desafios estruturais:
Inovação Tecnológica, A Europa demonstra um atraso significativo em tecnologias emergentes, particularmente em IA, com apenas quatro empresas entre as 50 principais tecnológicas mundiais.
Demografia, O envelhecimento da força laboral europeia, combinado com baixo crescimento da produtividade, compromete as perspetivas de crescimento económico.
Exposição Comercial, Com o comércio a representar mais de metade do output económico total, a UE encontra-se particularmente vulnerável a tensões comerciais globais.
O cenário torna-se ainda mais complexo com a recente vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA, que aumenta a probabilidade de uma guerra comercial. Joachim Nagel, presidente do Bundesbank, expressou preocupação com uma possível “fragmentação geoeconómica” significativa.
A presidente do BCE apresenta uma estratégia tripartida que procura redefinir fundamentalmente a arquitetura económica europeia, no centro desta visão está a proposta de uma unificação económica mais profunda, que vai além da atual união monetária, esta abordagem implica uma mudança paradigmática na governação económica europeia, abandonando definitivamente o conceito de “clube de economias independentes” em favor de um bloco económico verdadeiramente integrado, tal transformação exigiria uma harmonização mais profunda das políticas fiscais, laborais e industriais entre os Estados-membros.
No plano do investimento estratégico, Lagarde enfatiza a necessidade de uma mobilização coordenada de recursos em setores críticos, esta proposta alinha-se com o relatório recente do ex-presidente do BCE, Mario Draghi, que sublinhou a urgência de investimentos substanciais para impulsionar a competitividade do bloco, a concentração em áreas como a defesa comum e a transição verde não é apenas uma resposta às pressões geopolíticas atuais, mas também uma estratégia para criar novas vantagens competitivas para a economia europeia.
A questão da competitividade emerge como o terceiro pilar crucial desta estratégia, com apenas 8% de representação entre as principais empresas tecnológicas globais, a Europa encontra-se numa posição preocupante em termos de inovação, esta lacuna tecnológica é particularmente evidente em setores emergentes como a inteligência artificial e a computação quântica, a proposta de Lagarde sugere uma abordagem concertada para estimular a inovação, possivelmente através de um maior investimento em investigação e desenvolvimento, reformas nos sistemas educativos e criação de um ambiente regulatório mais favorável ao empreendedorismo tecnológico.
O cenário que se desenha para a União Europeia, na ausência de medidas interventivas significativas, é particularmente preocupante. As projeções apontam para uma erosão progressiva das receitas fiscais, acompanhada por um agravamento dos rácios da dívida pública. Esta deterioração fiscal terá consequências diretas na capacidade dos Estados-membros para manter os níveis atuais de despesa social, comprometendo simultaneamente a sua capacidade de investimento em áreas estratégicas cruciais, como a defesa e o combate às alterações climáticas. Este efeito dominó financeiro poderá desencadear um ciclo vicioso de declínio económico e social, minando os alicerces do modelo social europeu.
A situação atual exige uma resposta coordenada e ambiciosa da UE, como sublinha Lagarde, a Europa possui os recursos necessários para adaptar-se a estes desafios, mas necessita de uma transformação fundamental na sua abordagem à governação económica e à inovação tecnológica.