O empreendedorismo social é um jargão técnico que está na moda, mas afinal de onde veio, o que é, e o que é que se faz com ele?
O empreendedorismo social é o tipo de empreendedorismo que procura responder a desafios sociais e ambientais através da investigação e experiência de aplicação de soluções inovadoras. Para alcançar este objetivo, um empreendedor social procura obter a maximização do capital social existente (isto é, maximizar as relações de confiança e respeito) em determinado projeto, de forma a garantir a realização de mais iniciativas, programas e ações que permitam a uma comunidade, cidade ou região se desenvolverem de maneira sustentável.
De forma pragmática, o trabalho de um empreendedor social é utilizar uma abordagem empresarial, focada no compromisso com resultados e visão de futuro, com o intuito de identificar e resolver problemas de cunho socio ambiental.
Esta nova vertente do empreendedorismo pretende essencialmente desenvolver, propor e aplicar medidas, que podem ser simultaneamente lucrativas e benéficas, tanto para a sociedade como para o meio ambiente.
Trabalhar com questões sociais é no entanto um tema complexo visto ser necessária uma dose extra de criatividade e bom senso, para garantir a eficaz participação de grupos produtivos constituídos pela população na esfera política, ampliando o “espaço público” dos cidadãos em situação de exclusão e risco. As técnicas de gestão, a par com a necessidade de obter inovações produtivas e sustentáveis em termos de recursos naturais são elementos basais no desempenho de qualquer empreendedor social, visto o seu objetivo último ser a obtenção de bens e serviços, que possibilitem a melhoria da condição de vida das pessoas envolvidas e beneficiadas.
Assim, a diferença que existe entre o empreendedor social e o tradicional é fácil de identificar. Enquanto que o objetivo do empreendedor tradicional é apenas a maximização do lucro, estabelecendo para isso medidas e estratégias que geram um resultado financeiro positivo, o objetivo do empreendedor social é a utilização dos recursos disponíveis com o intuito de conseguir resultados positivos dentro de uma sociedade, estabelecendo medidas e estratégias que garantam um retorno social e ambiental.
Outra diferença fundamental a apontar é a propriedade das ideias que se experimentam. Enquanto empreendedor tradicional você não vai querer de maneira nenhuma que mais ninguém use a sua ideia, procurando desde logo registar uma patente para que não lucrem com algo que é seu e que desenvolveu. Todavia, ao adotar a postura de um empreendedor social você está logo à partida a abrir mão de tudo aquilo que é ideia experimentadora, isto é, você estará a criar ideias para o mundo, e pretende-se que fique feliz com o maior número de utilizações e apropriação ajustada das ideias que foi desenvolvendo. Em matéria de ideias, e no âmbito do empreendedorismo social, o objetivo principal é serem divulgadas para que sejam multiplicadas e aplicadas noutras cidades, regiões e países.
Ainda assim, desengane-se quem pensar que o empreendedorismo social não pode vir a dar lucro. Apesar de não ter como principal objetivo alcançar retorno financeiro, nada impede uma iniciativa deste tipo de ter fins lucrativos. Através do diferencial que pode existir entre o destino e a aplicação do dinheiro “angariado”, que deverá sempre servir para promover a qualidade de vida social, cultural, económica e ambiental sob a ótica da sustentabilidade, o empreendedor pode obter lucro, desde que proceda a uma boa gestão dos ativos.
Em termos prático, para além das iniciativas já desenvolvidas que vão proliferando no mundo, começaram a desenvolver-se também grandes organizações internacionais, com o intuito de incentivar e apoiar empreendedores sociais e pessoas com ideias novas, que podem vir a gerar grandes mudanças na sociedade. Fazem parte destes grupos os seguintes:
- “Ashoka” – Desenvolve e congrega uma rede mundial de intercâmbio de informações, colaboração e disseminação de projetos;
- “Kiva” – Promove e incentiva o investimento em micro e pequenos empresários de todo o mundo;
- “Artemísia” – Procura atrair e formar pessoas qualificadas para atuar na criação e desenvolvimento de modelos de negócio relacionados com o empreendedorismo social.
Estes grupos apoiam os empreendedores sociais na sua tarefa de identificação do que não está a funcionar e apoiando-os na resolução do problema.
Como exemplos de pessoas que se tornaram grandes empreendedores sociais históricos, encontramos os seguintes pelo mundo:
- Florence Nightingale, do Reino Unido – Fundadora da enfermagem moderna e criadora da primeira escola de enfermagem. Lutou desde sempre pela melhoria das condições hospitalares;
- Vinoba Bhave, da Índia – Fundador e líder do Land Gift Movement (Movimento de Doação de Terras que levou à redistribuição de mais de 17.300.000 hectares de terra para ajudar os intocáveis e os sem-terra da Índia;
- Margaret Sanger, dos Estado Unidos da América – Fundadora da Planned Parenthood Federation of America (Federação Americana do Planeamento Familiar) que dirigiu o movimento em prol do planeamento familiar em todo o mundo;
- Jean Monnet, de França – Responsável pela reconstrução da economia francesa após a Segunda Guerra Mundial, incluindo a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), organizações precursoras da União Europeia.
O empreendedorismo social constitui-se então como o espelho de pessoas que decidiram dedicar a sua vida à mudança de orientação em alguns setores. Os empreendedores sociais são assim, simultaneamente visionários e realistas, preocupando-se acima de tudo com a aplicação prática da sua visão, e com a capacidade de desempenhar um papel de recrutador em massa de “changemakers” locais, permitindo através das suas concretizações mostrar ao mundo que um modelo em que os cidadãos canalizam a sua energia para a ação é exequível.