O que permite a inovação?
Quais são os elementos que potenciam uma cultura inovadora?
A procura das respostas a estas duas questões tem vindo a acompanhar-me ao longo dos anos desde que comecei a interessar-me por empreendedorismo.
Foi então com espanto e satisfação que assisti no passado dia 25 de Fevereiro na Cisco Connect a uma sessão fascinante sobre como reinventar uma sociedade, reinventar um país numa cultura de empreendedores. Uma Cultura De Inovação.
Tive oportunidade de escutar a história por um dos seus intervenientes directos o antigo Director Geral do Ministério das Telecomunicações Israelita o Sr. Eden Bar Tal que recontou para a audiência a sua experiência em dinamizar, em conjunto com a Cisco Israel, a franja empresarial do país e em relançar uma economia que, em 2005, estava sobre sérias ameaças com uma crise económica instalada, um reflexo da contracção das suas exportações para o mercado mundial.
Com esta desacelaração mundial, e a ausência de investimento estrangeiro gerou-se uma espiral de acontecimentos dramáticos para o país: despedimentos e um geral desinvestimento na economia. Com um aumento do desemprego o país teve como resultado graves tumultos sociais e manifestações de insatisfação da população que se dirigiu às ruas em protestos nunca antes vistos no país.
Dentro desse contexto a resposta do governo foi de tentar fazer uma omelete sem os ovos do investimento estatal.
Foi nesta altura que o Sr Eden Bar Tal estabeleceu um documento estratégico que delineava o mapa de desenvolvimento tecnológico que Israel teria de percorrer para alcançar as condições de crescimento económico.
Ele resumiu esse programa num slide de power point e apresentou-o ao Primeiro Ministro Netanyahu, que aprovou o plano, com uma condição simples; o estado não poderia financiar esses investimentos e caberia ao Director Geral do Ministério das Telecomunicações a tarefa de encontrar parceiros que o pudessem auxiliar a tornar o seu país num catalizador para o desenvolvimento empresarial.
Esta estratégia assentava em 4 pilares sociais e tecnológicos e os resultados que pretendiam eram o aumento do PIB do país, reduzir as desigualdades sociais e o fosso existente entre os cidadãos mais ricos e os mais pobres e aumentar a competitividade do país. Na prática pretendiam criar uma franja vibrante de classe média populada por pequenas e médias empresas com foco tecnológico.
Encontraram efectivamente na Cisco um parceiro que lhes deu a mão e investiu em empresas, em projectos piloto e em capacidade e infraestruturas que permitiram criar os pilares necessários desta estratégia para lançar esta nova economia de banda larga.
O ponto de partida para este modelo passava por potenciar a cloud e para isso necessitavam de Internet rápida para fomentar uma industria baseada na Cloud, e potenciar a Inovação. O estado lançou um piloto numa das suas cidade rurais mais afastadas da capital e colocou a disposição das escolas tecnologia de banda larga e colaboração via telepresença tendo inclusivo entrado para o Guiness com a maior aula do mundo feita via Telepresença.
Estavam lançados os dados que iriam mudar a economia do país.
Com esta infraestrutura de banda larga nas escolas, hospitais e sector privado e com um parceiro tecnológico investido no país começaram a surgir um conjunto de novas empresas de tecnologia que inicialmente ofereciam suporte a multinacionais com os seus quadro técnicos de suporte, e de near shore suporte. Surgiram lentamente à sua volta pequenas startups, empresas web, e um ecossistema que se expandiu inclusive para território palestiniano onde mais empresas foram surgindo gerando também na Palestina uma classe média.
O Sr. Eden Bar Tal aludiu às vitórias que Israel tem conseguido nestes últimos anos no campo da agricultura e que lhes tinha permitido tornarem-se numa potência exportadora de skills e produtos agrícolas como a famosa rega gota-a-gota e a reengenharia biológica do tomate cherry e da laranja jaffa.
Na saúde, também, desenvolveram uma camera wifi que permite uma colonoscopia não intrusiva e recentemente o projecto ReWalk em que criaram um exoesqueleto que permite aos paraplégicos andar numa posição vertical e com os movimentos naturais, restaurando um modo de andar que tinham perdido.
Mas a história de um país com banda larga não explica a totalidade do sucesso israelita pois estão a faltar os actores principais que levaram a cabo esta mudança, o próprio povo que trouxe estas inovações.
Falando de como o seu país é, hoje em dia, rico em empreendores e startups, o Sr. Eden Bar Tal aludiu então ao factor que contribuiu para estas grandes descobertas e transformações, e ele falou de que central para tudo o que aconteceu foi no íntimo do povo israelita haver uma cultura de inconformismo constante.
Ele falou e descreveu que o povo israelita possui um total desrespeito pelas regras, um completo desrespeito pela autoridade imposta o que resulta por parte do seu povo num constante questionar de tudo e todos, ninguém, dis Bar Tal, está acima de ver as suas ordens escrutinadas por aqueles mesmo que irão de seguida segui-las; é um povo que analisa ordens e direcções e essas são regularmente questionadas e por vezes desrespeitadas quando se prova que o argumento e fundamento não é sólido.
Esta cultura inconformista liga bem com o acto de empreender de pesquisar e de inovar com exemplo vivo dessas características que agora são amplamente reconhecidas como mais valias pelo mercado Bar Tal em tom de brincadeira perguntou à audiência se sabíamos duas corporações mundiais que não tinham estabelecido centro de inovação em Israel. A audiência não sabia efectivamente e com um sorriso ele disse-nos: “A Blackberry e Nokia” e “vejam o que lhes aconteceu!”
Que lições podemos tirar das experiências israelitas? De facto o insight com que fiquei de escutar Bar Tal foi de que temos que acreditar mais em nós próprios e em Portugal, se um país com menos recursos rodeado de nações não amigáveis conseguiu criar uma cultura de risco e de empreendorismo claramente temos também um caminho a trilhar.
Não podemos deixar de estabelecer um paralelismo com o nosso país quando tentamos responder a estas duas perguntas , temos sem dúvida uma infraestrutura de banda larga excelente, comunicações móveis de última geração que em muito potencia a inovação talvez o que nos falte seja o software para animar esta infraestrutura aquele bichinho que nos diz para não nos conformarmos e não aceitarmos o “nosso fado” mas rejeitarmos o pré estabelecido e cunharmos o nosso destino, no fundo o empreendorismo é isso mesmo; rejeitar o status quo e criar mercados onde não os havia antes e é nesse espirito inconformista que nos permitimos sonhar e inovar.
André Vieira