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Universos Paralelos: Inverter A Seta Do Tempo?

Se já alguma vez parou para pensar sobre o conceito de universo ter-se-á deparado com a particularidade de ele integrar em si a definição de um só, dado através do prefixo “uni”. Se pensou mais a fundo sobre essa questão ter-se-á interrogado também sobre a veracidade que o prefixo “uni” acarreta.

Será que existe apenas um universo? Será que podemos ser hipócritas ou megalómanos o suficiente para pensarmos em nós, universo tal como o conhecemos (e desconhecemos), como a única coisa que existe dentro do espaço em que tudo se criou?

Se sim, voltaríamos ao antropocentrismo, mas na ótica de pensamento que consideraria que o Homem, o que o rodeia, e onde ele se insere é o centro de tudo no meio do nada.

Poderíamos até, designar esta forma de pensar como “univercentrismo”, sendo ela a crença de que existe um e um só universo, que se centra no meio do nada, e que nós estamos dentro dele, bem organizadinhos no seu centro, vivendo o quotidiano corriqueiro de quem se esquece que há muito mais por cima das nossas cabeças.

E se não? E se pensarmos que o Universo não é tão uno assim e que, aquando da sua criação no Big Bang, se criaram universos paralelos ao nosso, relacionados com ele e onde desfechos para as mesmas ações podem ser totalmente diferentes?

Ambas as hipóteses coexistem. Todos sabemos que a teoria mais aceite e com a qual nos conformamos diariamente (e até por uma questão de sanidade mental) é a de que existe apenas um Universo que é este onde estamos aqui e agora. Todavia, desde os anos 50 que começaram a emergir teorias que apontavam para a existência de universos paralelos a fim de poder justificar o comportamento errático das partículas estudadas em mecânica quântica.

Independentemente das teorias sobre a existência de um universo ou de um multiverso, uma questão que os atravessa é fundamental: como funciona o tempo?

O tempo, tal e qual o percebemos move-se do passado para o futuro de forma irreversível. Em 1920, o astrónomo Arthur Eddington estabeleceu o termo “flecha do tempo” que definia que o tempo apenas se movia numa única direção assimétrica, sendo essa direção a de maior entropia (isto é, grau de desorganização/aleatoriedade).

É pois de acordo com esta definição termodinâmica de tempo, que à medida que avançamos, nos vamos olhando ao espelho e vendo que tudo o que começou num estado organizado, se vai decompondo lentamente, até alcançar um estado caracterizado pela maior desorganização de tudo. Dada a tão óbvia e observável evolução humana ao longo da flecha do tempo seria provável alguém pensar sobre uma hipótese que a contrariasse? Não seria provável, mas como tudo no universo acontece porque existem infinitas possibilidades de concretização (de acordo com a Lei de Murphy) isso acabou por acontecer.

O trio de cientistas Julian Barbour de Oxford, Tim Koslowski da Universidade de New Brunswick e Flavio Mercati do Instituto de Física Teórica de Perimeter começaram a estudar uma nova hipótese de flecha do tempo, não baseada na termodinâmica (como aquela que é aceite atualmente) mas baseada na gravidade, sendo que defendem que aquilo que é verdadeiramente indiscutível sobre as leis da física é que elas são exatamente as mesmas independentemente da direção em que o tempo corre.

Para conseguirem chegar ao conceito de “flecha do tempo gravitacional” utilizaram uma simulação em computador que permitiu observar 1000 partículas a interagirem sob a influência da gravidade e concluíram que todas as configurações resultantes evoluíam para um estado de baixa complexidade e que, a partir desse estado as partículas se expandiam para duas direções opostas e simétricas. A criação de duas direções opostas e simétricas permitiu aos cientistas olharem para a criação do universo de outra forma. Assim sendo, teorizaram que, à semelhança do que ocorreu na simulação, também na altura do big bang, podem ter sido criados dois universos iguais e simétricos em que num a flecha do tempo anda para a frente e noutro a flecha do tempo anda para trás.

Ao elaborarem a presente teoria este trio de cientistas conseguiu chegar mais perto da noção de que existem diferentes futuros, passados e presentes, dada a co-existência de universos paralelos, gerados no mesmo momento e da mesma fonte, em que tudo está a acontecer simultaneamente. Todavia, os observadores desses acontecimentos (quem vive nesses universos) percecionam-nos de uma forma única, vivenciando apenas a flecha do tempo que é característica desse universo e não sendo possível ter a noção da existência de outras realidades noutros universos paralelos.

Muitas são as teorias formuladas sobre universos, mas aquela que verdadeiramente viria a integrar todas elas foi a teoria que Einstein deixou por completar – A Teoria do Tudo.
Após ter desenvolvido teorias ao nível da macro escala e ao nível da micro escala, Einstein defendia que, existindo ambas as teorias, neste universo, com resultados comprovados isoladamente, era impossível que, de alguma maneira elas não se sobrepusessem. Assim sendo, idealizou uma teoria que tentaria congregar os resultados de ambas, apesar de até àquele momento eles não serem compatíveis.

A teoria do tudo constituiu-se assim como a teoria que pretendia integrar todas as leis da física, compatibilizando a teoria da relatividade (que apenas se foca no estudo da força da gravidade como principal força de ação que permite compreender o universo de larga escala e elevada massa) com a teoria quântica (que se foca na tentativa de compreensão do universo de pequena escala e baixa massa através da interação de três forças não gravitacionais – forças nucleares, forças eletromagnéticas e forças magnéticas).

A necessidade de uma unificação de teorias e de ideias aparece vinda de um dos grandes génios da física, todavia todos nós sentimos a necessidade de pertencer a uma teoria unificada do tudo. A curiosidade e necessidade de compreender o mundo que nos rodeia leva-nos a não desistir de tentar cada vez mais, perceber verdadeiramente em que devemos acreditar. Sim, porque todos nós precisamos de acreditar em algo. Seja um Deus criador, seja um universo gerado através do Big Bang, seja a existência de multiversos que permitem que a flecha do tempo não corra só para a frente. Precisamos de acreditar para nos sentirmos parte da criação.

A teoria dos multiversos – ou universos paralelos – apesar da sua complexidade e exigência constitui-se assim, como uma teoria de esperança, que nos permite pensar que a existência não é apenas o que vemos e o que tocamos, mas sim, paralelamente, algo mais que não se vê, não se toca, mas que está simultaneamente a acontecer.

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