Toda a gente já ouviu falar pelo menos uma vez na vida no Quociente de Inteligência, ou mais comumente abreviado – o QI. Este conceito aparece frequentemente relacionado com as temáticas de testes psicotécnicos, entrevistas de emprego, ou simplesmente quando se pensa comparar duas pessoas ao nível da sua inteligência.
A origem deste conceito remonta ao início do século XX, e foi-nos trazido pela mão de Alfredo Binet, que a pedido do sistema de ensino francês, desenvolveu um instrumento através do qual seria fácil prever quais as crianças que teriam sucesso nos liceus parisienses, cujo mote era a excelência. Assim sendo, e pondo ao serviço de França o seu raciocínio lógico, construiu uma bateria de testes que testava a habilidade das crianças nas áreas verbal e lógica, dado que eram estas as matérias privilegiadas nos currículos académicos à época.
Ao longo do tempo os testes de QI foram sendo aprimorados por estudiosos da área levando-os até aos Estados Unidos na época da Primeira Guerra Mundial, onde foram aplicados a inúmeros recrutas americanos, na sua seleção e encaminhamento para as diversas especializações.
Com o sucesso deste instrumento a aumentar e o mundo a evoluir, acabou por se integrar na sociedade a ideia de que ser inteligente estava relacionado com a capacidade de responder corretamente a perguntas compiladas em testes de QI.
Tal como em todas as teorias, também no âmbito dos testes de inteligência acabaram por se formar ideias divergentes, tendo surgido várias teorias marginais.
Uma das teorias marginais mais debatidas e atualmente aceite como a grande opositora da de Binet foi a desenvolvida por Howard Gardner, psicólogo cognitivo e educacional. Gardner considerou a inteligência como a capacidade resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam valorizados num ou mais ambientes culturais ou comunitários, tendo ainda defendido que a ideia de Binet era demasiado simplista porque media a inteligência através de um só número, e não tinha em conta o contexto complexo em que se desenvolvem os problemas no quotidiano.
Tanto a biologia como a neurologia têm chegado a conclusões que suportam este raciocínio de Gardner pois estudos recentes demonstram que o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito único, absolutamente especializado, nem absolutamente estático, mas sim um órgão infinitamente plástico.
Deste modo, segundo Gardner, todos os indivíduos normais são capazes de agir em diversas áreas intelectuais, até certo ponto independentes, daí ter sugerido que possuiríamos não um, mas nove tipos de inteligência. São elas:
1. A inteligência lógico-matemática é caracterizada pela capacidade de confrontar e avaliar objetos, conceitos e abstrações, percebendo as suas relações e princípios subjacentes. Este tipo de habilidade é necessária não só para o desempenho de um raciocínio lógico e dedutivo, mas também para solucionar problemas matemáticos.
2. Na inteligência musical é habitual destacar-se a habilidade para compor e executar padrões musicais, possuindo em simultâneo a capacidade de memorização e reprodução a partir dessa memória, com discernimento de ritmo, timbre, estrutura, melodia e harmonia. Este tipo de inteligência ocorre associada a outros tipos de inteligências, nomeadamente a linguística, a espacial ou a corporal-cinestésica.
3. Em termos de inteligência linguística é frequente identificar-se um domínio e gosto especial pelos símbolos linguísticos, idiomas e palavras. Este tipo de inteligência é também a responsável pela habilidade de lidar e produzir através desses símbolos e os seus significados, quando organizados em texto, e por um desejo de os explorar.
4. A inteligência espacial caracteriza-se pela capacidade de compreender visualmente o mundo físico com precisão, permitindo conceptualizar relações espaciais, transformar, e recriar experiências visuais mesmo sem estímulos físicos.
5. A inteligência corporal-cinestésica caracteriza-se pela capacidade especial de controlar e orquestrar movimentos do corpo de forma rápida, intuitiva e consciente.
6. A inteligência intrapessoal consiste na capacidade de se conhecer a si próprio, controlar, conhecer e prever reações, emoções e estados de espírito.
7. Parecida em designação com a anterior é a inteligência Interpessoal, que da intrapessoal se distingue, por se considerar ser a capacidade ou habilidade de entender as intenções, motivações, estados de espirito e desejos dos outros.
8. A inteligência naturalista traduz-se na sensibilidade para compreender e organizar os objetos, fenómenos e padrões da natureza.
9. Por fim a inteligência existencial é aquela que se traduz na capacidade de refletir e ponderar sobre as grandes questões fundamentais da existência, e elaborar de forma abstrata teorias sobre elas.
Qualquer um de nós que leia este artigo consegue perceber facilmente o quão intuitiva é a sua imediata identificação com o tipo mais preponderante de inteligência listado. Ao penetrar na essência das características de cada tipo poderá autoconhecer-se um pouco mais, chegando à conclusão que afinal há dentro de si um potencial escondido a desenvolver.
Independentemente das várias teorias que aparecem no mundo da investigação, uma coisa é inegável na que aqui se trouxe – ao identificar estes nove tipos de inteligências Gardner abriu portas para uma compreensão mais profunda de nós mesmos, provando de forma científica que somos complexos e que por isso as avaliações cognitivas têm que levar em conta os mais variados contextos de resolução de problemas.