Do outro lado do Atlântico, as tarifas de Donald Trump estão a redefinir as regras do comércio global. Embora Portugal exporte mais para os EUA do que importa, o impacto indireto pode ser significativo: se as multinacionais americanas aumentam preços e ajustam cadeias de abastecimento, as PME portuguesas, que dependem de matérias-primas ou componentes importados, podem sentir o efeito em cascata. Quando 86% dos CEOs norte-americanos admitem que vão repassar os custos aos consumidores e 89% preveem impactos nos próximos três anos, a pergunta é inevitável: como se prepara um tecido empresarial como o nosso, tão ligado à economia global, para esta nova realidade?
O impacto das tarifas
As novas tarifas de Trump, 10% sobre a maioria das importações, 50% sobre aço, alumínio e cobre, e 25% sobre automóveis e peças, não são apenas um problema para as multinacionais norte-americanas. São um desafio para qualquer empresa portuguesa que dependa de cadeias de abastecimento internacionais. A Europa, embora tenha negociado uma taxa de 15% em agosto de 2025, não está imune. E Portugal, com a sua forte dependência de importações de matérias-primas e componentes industriais, sente o peso dessa realidade.
Exemplo concreto: As tarifas de Trump incidem sobre produtos que entram nos EUA, mas o seu efeito pode chegar a Portugal de forma indireta. Imagine uma PME portuguesa que exporta para os EUA: se os seus produtos forem alvo de tarifas, ficam mais caros para o consumidor americano, o que pode reduzir as vendas. Por outro lado, se essa PME depende de matérias-primas ou componentes que passam por cadeias de abastecimento globais, como eletrónicos da Ásia ou aço da Turquia, cujos preços podem subir devido a tensões comerciais, os custos de produção também aumentam. Num mercado competitivo como o nosso, quem paga a fatura? O consumidor final, claro. Mas até que ponto o bolso dos portugueses, já apertado pela inflação, aguenta mais um aumento?
A resposta dos CEOs, um espelho para as PME portuguesas
O que estão a fazer os CEOs norte-americanos perante este cenário? Segundo a KPMG, 85% já estão a ajustar as suas estratégias de abastecimento, deslocalizando produção e procurando fornecedores dentro dos EUA. Mas essa não é uma opção viável para a maioria das PME portuguesas. Não temos a escala, nem o mercado interno, nem a capacidade de produção dos EUA.
Então, o que fazer?
Diversificar fornecedores, procurar alternativas dentro da União Europeia ou em países com acordos comerciais favoráveis pode ser uma saída. Mas exige tempo, investimento e uma rede de contactos sólida.
Inovar na cadeia de valor, se os custos sobem, talvez seja a altura de repensar o modelo de negócio. Será que a sua PME pode investir em produção local, reciclagem de materiais ou até em economia circular?
Monitorizar o mercado, As tarifas de Trump são voláteis. Uma PME que dependa de importações precisa de estar atenta às atualizações nas políticas comerciais, não só dos EUA, mas também da UE.
O que dizem os especialistas?
Jim Farley, CEO da Ford, já avisou, as tarifas estão a impedir a empresa de investir mais nos EUA. Se uma gigante como a Ford sente o impacto, imagine uma PME portuguesa. Por outro lado, há quem defenda que estas medidas podem, a longo prazo, fortalecer a produção local. Mas será que o tecido empresarial português está preparado para essa transição?
Em Portugal, a resposta tem de ser coletiva. Associações empresariais, como a CIP ou a AIP, podem desempenhar um papel crucial na negociação de condições mais favoráveis para as PME. E o Governo? Talvez seja altura de repensar incentivos à produção local e à inovação, para que as empresas não fiquem reféns das oscilações do comércio global.
As tarifas de Trump são, sem dúvida, um desafio. Mas também podem ser um catalisador para repensar a forma como fazemos negócios. Se as PME portuguesas conseguirem antecipar os impactos, diversificar riscos e inovar, talvez saiam desta crise mais fortes.
“Quando o vento sopra forte, uns constroem muros, outros constroem moinhos.” Qual será a escolha das nossas PME?