Depois de um dia inteiro sentado em frente ao computador, sem sabermos muito bem porquê, o nosso corpo pede-nos desesperadamente uma caminhada, uma corrida, um mergulho no mar.
O ambiente exterior influencia-nos, sendo que o normal é dar-nos vida, revigorar-nos. Todavia, o contrário também acontece e o ambiente interior acaba por nos deixar aborrecidos, cansados, doentes, retirando-nos alguma qualidade de vida, seja em termos posturais, seja em termos de inalação de ar saturado.
Dado que passamos grande parte do nosso tempo dentro de espaços fechados, sejam eles a nossa casa ou o nosso gabinete, deveríamos estar conscientes de que o ambiente interior nos afeta de forma inegável, sendo muitas vezes a falta de qualidade do ar interior, poluição, a razão que mais mal estar nos gera, limitando-nos a produtividade e a boa disposição.
A poluição do ambiente interior ainda é um tema pouco debatido mas isso não lhe retira importância. É importante ter consciência das fontes poluentes que podem existir e prejudicar a sua qualidade de vida.
Poluição do ar interior
Em espaços mal ventilados com esquentadores, fogões, aquecedores a gás e até lareiras geram-se produtos de combustão que podem tornar-se perigosos. De todos eles o mais perigoso é o monóxido de carbono que, sem dar conta (por não possuir cheiro), e dada uma determinada concentração, leva à diminuição da capacidade de respiração, interferindo com a fisiologia do fígado, acabando por reduzir a capacidade cognitiva, chegando em alguns casos a ocorrer o desmaio e consequente morte de quem o inalou.
Ainda em relação a gases temos os óxidos de azoto que se encontram comumente nas garagens. São provenientes dos sistemas de exaustão dos automóveis e que afetam não só o sistema reprodutivo como o sistema nervoso, pelo que, as garagens quando integradas em edifícios devem ser projetadas de forma a que fiquem isoladas das habitações e permitam apenas a breve permanência de pessoas nesse local.
Aos compostos orgânicos voláteis deve-se prestar também especial atenção sobretudo porque estes são parte integrante de ceras, vernizes, tintas, lacas, detergentes, fibras sintéticas bem como solventes, contraplacados e até tapetes. Estes são tóxicos e libertam-se à temperatura ambiente (devido ao facto de serem muito voláteis), chegando a produzir vapores não detetáveis. A sua inalação provoca frequentemente dores de cabeça, irritação dos olhos, fadiga, alergia, depressão e erupções cutâneas.
Relativamente aos pesticidas e inseticidas, torna-se necessário também ter atenção quais os seus efeitos, sobretudo decorrentes do uso simultâneo de duas qualidades diferentes. Um inseticida sozinho pode não trazer problemas de maior, mas a combinação de dois já acarreta um potencial de dano muito superior para o ser humano. Actualmente está provado que a exposição a biocidas aumenta a probabilidade de desenvolvimento de células cancerígenas, bem como o aparecimento de alterações ao nível do sistema nervoso e reprodutor.
Poluição electromagnética
A poluição eletromagnética é consequência do uso frequente de aparelhos tecnológicos que vão desde os telemóveis às antenas transmissoras. A radiação por eles emitida e as suas consequências têm vindo a ser amplamente discutidas na comunidade científica, todavia está provado que estas são nefastas para o ser humano e apresentam como consequências a diminuição das capacidades do sistema imunitário, levando por vezes ao aparecimento, em casos pontuais, de leucemias.
Poluição sonora
A poluição sonora em ambientes interiores é uma das que mais incomoda diretamente os seus intervenientes. Desde o barulho das impressoras, ao barulho do computador do colega do lado, ao barulho do ar condicionado, desde o som da música que ecoa nos auscultadores do colega da frente, tudo irrita. Está provado que o Homem funciona bem num determinado limiar de décibeis, sendo que tudo aquilo que ultrapasse esse limiar gera desconforto não só a nível psicológico como também corporal, podendo gerar até situações de ansiedade e depressão, aquando de uma exposição frequente a um ambiente “barulhento”.
Poluição de origem natural
A radioatividade pode ser encontrada naturalmente na natureza. A prova disso é o radão, um gás que ocorre naturalmente em algumas rochas, nomeadamente nos granitos. Este composto consegue penetrar nas casas (através de fissuras, canos, etc.) e pode, caso as zonas não se encontrem devidamente ventiladas, atingir concentrações nocivas para a saúde levando a um aumento da incidência do cancro do pulmão (já existem estudos nas regiões Beirãs de Portugal para avaliar a perigosidade dos níveis existentes). Outros poluentes naturais são os principais responsáveis pelo aumento das crises alérgicas e doenças respiratórias. São eles os pólens, o pó (sob a forma de ácaros) e ainda os esporos de fungos que surgem naturalmente nos alimentos fora de validade.
Dadas todas as situações de poluição que se constituem como um potencial de redução da qualidade de vida é importante tomar certas precauções a fim de erradicar ou minimizar as suas fontes.
Como já foi visto anteriormente é importante garantir uma boa circulação do ar interior, permitindo a entrada de ar do exterior, e também minimizar a quantidade de aparelhos eletrónicos em excesso em zonas de descanso, sendo que nesses locais se deve conseguir ter uma isolação de ruído que permita o relaxamento e consequente regeneração do bem-estar. Por fim, é de notar que a utilização de fragrâncias artificiais, nomeadamente perfumes de interior e incensos, deve ser evitadas, visto que a maioria é constituída por produtos sintéticos derivados do petróleo e que se configuram prejudiciais à saúde.
Em substituição pode colocar rodelas de limão cortadas de fresco em pequenos pires que irão emanar uma fragância natural e absorver os cheiros desagradáveis. Outra alternativa é criar o seu “Potpourri” natural, recorrendo ao uso de canela em pau, cardamomo, e a outras especiarias que goste.
A qualidade do ambiente que nos envolve é claramente uma influência que induz mudanças no nosso comportamento e até na nossa saúde. Como a vida é feita sempre a correr nem sempre possuímos a capacidade (ou tempo) para parar e analisar os potenciais impactos daquilo que nos rodeia, chegando por vezes a adoecer “sem saber como”. Ao conhecer as implicações da qualidade do ar interior estamos já a tomar o primeiro passo para nos protegermos de forma mais eficaz.
Ser saudável não é só possuir uma alimentação cuidada e fazer exercício físico, é garantir, que para além dessas peças fundamentais, o ambiente (tanto o que nos rodeia, como interior) contribui também para o mesmo fim – uma vida plena, longa e feliz.