As pessoas que integram uma organização, seja ela uma empresa multinacional ou uma organização de voluntariado, contribuem sempre para a natureza específica de cada organismo, constituindo-se sempre como promotores de mudança e desenvolvimento do próprio meio onde operam. Deste modo torna-se evidente que a forma como as pessoas se relacionam entre si, em contexto organizacional, é a chave para o sucesso de qualquer objetivo/negócio.
É neste ponto que a psicologia humana toca a área de negócio, sendo por isso muito importante que qualquer organização possua ao seu dispor um gabinete de apoio psicológico aos colaboradores, na medida em que, na maioria dos casos, em regime de trabalho de escritório, surgem muitas vezes associados riscos psicossociais, decorrentes das atividades laborais e das relações interpessoais.
Todavia, até ao final dos anos 90 este apoio era maioritariamente providenciado pelos psicólogos formados através das correntes psicológicas mais orientadas para a identificação de problemas/sintomas, pelo que ainda existia um estigma associado à procura de “ajuda” psicológica.
Atualmente essa tendência tem vindo a ser contrariada e assiste-se diariamente a uma transição suave no paradigma, que se tem vindo a acentuar nos últimos anos, com o nascimento de um novo estilo de psicologia – a psicologia positiva.
O movimento da Psicologia Positiva teve início em 1998, quando o psicólogo Martin Seligman, após vários anos de prática e de estudo das práticas de psicologia, decidiu mudar o paradigma, pois segundo ele a ciência psicológica negligenciava o estudo dos aspetos virtuosos da natureza humana. Para provar o seu ponto de vista, elaborou um estudo onde demonstrou factualmente que o rácio existente entre estudos sobre a depressão, e estudos sobre a felicidade estava descompensado, onde para cada 110382 artigos (entre os anos de 1970 e 2006) sobre depressão, existiam apenas 4711 artigos publicados no mesmo período sobre a felicidade.
Esse estudo foi apontado como o início de uma nova abordagem ao nível da ciência psicológica, pois em conjunto com outros colegas, Seligman identificou as lacunas presentes nas investigações psicológicas levadas a cabo até então e tendo evidenciado ainda a necessidade de concretização de pesquisas sobre aspetos positivos inerentes ao ser humano como são por exemplo, a esperança, a criatividade, a coragem, a sabedoria, a espiritualidade ultimamente a felicidade.
Após o início deste movimento a Psicologia Positiva cresceu em evidências científicas e desenvolveu um processo de expansão dentro da ciência psicológica, pois esta acabou por se tornar numa abordagem completamente antagónica à que existia inicialmente e que conotava a psicologia de forma negativa, fazendo com que a grande maioria das pessoas se afastasse das suas potencialidades.
A psicologia positiva possibilita assim uma reavaliação da energia potencial das virtudes humanas por meio do estudo das condições e processos que contribuem para a prosperidade. De acordo com esta visão, o conhecimento das forças e virtudes pode propiciar o “florescimento” (“flourishing”) das pessoas, comunidades e instituições.
Deste modo, ao garantir que os elementos de uma organizam “florescem”, isto é, que se desenvolvem plenamente, de forma saudável e positiva de acordo com os seus aspetos psicológicos, biológicos e sociais, está-se a trabalhar em prol da obtenção de indivíduos que sentem uma emoção positiva pela vida, apresentam um ótimo funcionamento emocional e social e minimizam a probabilidade de desenvolver problemas relacionados à saúde mental.
No contexto organizacional, a psicologia positiva aponta para a necessidade de as organizações serem lideradas e geridas de modo positivo, tendo o objetivo de identificar as qualidades dos indivíduos, e ajudá-los a encontrar formas de organização e trabalho que lhes permitam tirar o máximo proveito das suas capacidades, bem como criar ambientes organizacionais facilitadores do crescimento psicológico.
A sua implementação em organizações é simples, podendo conceber-se e realizarem-se intervenções através de programas de formação, de “coaching” e ainda de desenvolvimento de competências aplicáveis ao contexto organizacional.
Depois de implementada numa empresa, esta abordagem psicológica positiva permite, após algum tempo de implementação e consolidação por parte dos colaboradores, a obtenção a longo prazo de um comportamento organizacional positivo, isto é, as pessoas tornam-se detentoras de forças e capacidades psicológicas positivas que podem ser desenvolvidas e geridas de uma forma eficaz para a melhoria do desempenho organizacional e para a melhor realização pessoal dos membros da organização. De forma corriqueira se pode dizer “colaborador feliz, organização sustentável”.
Outra vantagem desta aplicação é a de gerar recursos específicos como o Capital Psicológico Positivo, que consiste na capacidade integrada de várias capacidades básicas: a auto-eficácia, a esperança, o otimismo e a resiliência. Ao permitir que os colaboradores desenvolvam estas capacidades, as organizações estarão a transformar o capital humano em capital psicológico positivo, ou seja, estão a garantir que os seus colaboradores possuem capacidades que melhor correspondem a adversidades (e que em tempos de crise são bastante úteis). Estas capacidades psicológicas definem um estado psicológico positivo nos colaboradores, que resultam não só no aumento de empenho e aplicação de todos os esforços para levar a cabo os objetivos definidos pela organização, mas também no aumento da perseverança aquando da necessidade de procurar novos caminhos para a resolução de problemas.
Em suma a Psicologia Positiva pretende contribuir para o florescimento e o funcionamento saudável das pessoas, grupos e instituições, preocupando-se em fortalecer competências ao invés de corrigir deficiências, permitindo ampliar o campo de atuação e reforçar a capacidade de resiliência de todas as pessoas, quer na qualidade de colaboradores de uma empresa, quer na qualidade de pessoa-indivíduo.