Estimativas do Conselho Europeu do Cérebro indicam que 22.7% da população da União Europeia com idade entre 18 e 65 anos sofre, em cada ano, de um qualquer tipo de problema de saúde mental. Todavia, o que impressiona ainda mais, é o facto de este número ter sido retificado recentemente e ter subido para 38,2%, após a inclusão dos dados de uma ampla avaliação da infância e da adolescência. Não fechemos os olhos. Há claramente aqui um problema a resolver.
Mas afinal o que são problemas de saúde mental? Que tipos de problemas é que se enquadram nesta lista que parece ensombrar a União Europeia na mesma época em que a crise a assola? Existirá uma correlação? Andaremos todos tão deprimidos com o estado do nosso país e o enquadramento económico do mesmo, que podemos levar essas “dores” connosco ao ponto de as tornarmos físicas? Vamos olhar de novo para números.
Em Portugal a Direção Geral de Saúde implementou o Programa Nacional para a Saúde Mental com vista a conhecer mais sobre a realidade no país. Através dos seus estudos constatou-se uma prevalência anual de 22.9% de doenças do foro da saúde mental, de entre as quais se destacaram as perturbações de ansiedade (16.5%), possuindo também as restantes – perturbações depressivas, perturbações de impulsividade e perturbações do uso e dependência de substâncias – valores significativos ainda que mais baixos.
Entre os transtornos de ansiedade, os mais comuns são a fobia específica, as perturbações do pânico (vulgos ataques de pânico) e a fobia social, sendo que nas perturbações de humor sobressai com destaque e apresentando elevada incidência, a depressão major, seguida da perturbação bipolar e da depressão crónica.
As perturbações do foro da saúde mental acontecem cada vez mais e intrigam de forma incessante, não só quem com elas sofre, como também os especialistas que procuram as respostas para o seu aparecimento e consequente tratamento adequado, tentando sempre que possam a prevenção da reincidência.
Mas quais são então os motivos para se cair nestes quadros de emoção crónica que fisicamente nos desgastam e limitam a qualidade de vida? As primeiras respostas foram dadas por psiquiatras. Estes identificaram que este tipo de perturbação ocorre tendencialmente em criança, derivado a situações de conflito familiar, pobreza e dificuldades escolares, e que se não for diagnosticado a tempo pode originar um adulto com uma patologia já avançada em termos de perturbações mentais.
Por forma a aprofundarem ainda mais a questão, neurocientistas estudaram durante vários anos, vários pacientes em ambientes distintos, na tentativa de perceberem se poderia ser o ambiente à sua volta, o principal responsável pelas perturbações. No fim desses estudos todos chegaram à mesma conclusão: o ambiente influencia sim a possibilidade de ocorrência de perturbações, mas a herança genética também é responsável pelo aparecimento deste tipo de perturbação. Esta conclusão veio acabar de vez com a saga em que os cientistas se encontravam, da procura (frustrada) do “gene responsável” pela esquizofrenia, depressão ou transtorno bipolar.
As conclusões são claras, e se pensarmos um pouco, bastante coerentes. Ao sermos sujeitos a pressões como o stress, as drogas ou a perda de entes queridos, o nosso corpo reage de forma por vezes abrupta, gerando emoções tão fortes que podem levar à ocorrência de alterações psicossomáticas/genéticas, que nos deixam mais vulneráveis à ocorrência deste tipo de perturbações.
Andamos sempre a correr, sem tempo para nos emocionarmos e vivenciarmos as pessoas e por vezes quando o queremos fazer torna-se tarde demais. Ao pensar sobre isso vem uma nuvem negra, que, se não se souber lidar com ela, poderá constituir-se como uma difícil conquista na sua vida. Não ignore os sintomas. Emoções negativas recorrentes, pensamentos suicidas e sensações de pânico constante não são padrões “normais”. Não tenha medo de se informar nem se sinta estigmatizado, pois como já percebeu, muitas vezes o problema não é seu. O que aconteceu foi apenas uma forma do seu organismo se proteger de um embate (stress, perda, dependência de substâncias), geralmente muito doloroso.
É importante ter em mente que qualquer um de nós pode vir a sofrer um tipo de perturbação mental, e com isto, não se pretende assustar ninguém, nem gerar o pânico. O verdadeiro objetivo por detrás desta afirmação é criar consciência de que todas as pessoas que sofrem com este problema têm uma doença real, que não pediram que acontecesse, mas que aconteceu, pelo que é preciso respeitá-las e ajudá-las pacientemente a recuperarem o bem-estar perdido (e é preciso ter consciência que esta recuperação pode levar vários anos).
Atualmente já existem muitas formas de tratar este tipo de perturbações, passando pela utilização de várias terapêuticas farmacológicas recomendadas (que cada vez têm menos efeitos secundários), indo até à utilização de terapias alternativas como é o caso da acupuntura, yoga ou Reiki. O ideal é poder conjugar as duas, para que consiga aliviar a sensação de forma mais permanente e se sentir mais facilmente revigorado, sendo que as terapias alternativas funcionam como apoio à reconstrução do amor-próprio, que nestes casos é a primeira característica pessoal a desaparecer.
E para que isto não me aconteça a mim? Relembre-se então, que para evitar ao máximo a conjugação de genética e de ambiente propensa a que este tipo de perturbações ocorra, o ideal é levar um estilo de vida descontraído, relaxado e bem-disposto. Ria. Ria muito, mesmo quando não tem vontade (porque todos sabemos que a vida pode ter momentos duros). Seja honesto e fiel aos seus princípios e se algum dia se sentir mais afetado psicologicamente por determinado evento, nunca deixe de consultar um profissional, seja ele médico, psicólogo, psiquiatra ou arte-terapeuta.
Tal como para qualquer problema existe uma solução, também os problemas de saúde mental possuem uma cura, por isso não adie a solução em prol de mais um dia de ansiedade à espera que a mudança aconteça. Tudo depende de si. Porque fomos feitos para sermos sãos e todas as doenças são passageiras.