O Relatório Europeu “European Consumer Payment Report 2024” revela uma leve recuperação na capacidade dos europeus em cumprir com suas obrigações financeiras, mas os portugueses seguem entre os mais vulneráveis da Europa. Com 61% a conseguirem pagar as contas a tempo, abaixo da média europeia, os portugueses enfrentam desafios financeiros e dependem fortemente de crédito de curto prazo para despesas inesperadas.
O relatório, publicado pela Intrum em novembro de 2024, reflete as dificuldades e ajustes que os consumidores europeus continuam a enfrentar após anos de inflação e aumento de custos de vida, embora a inflação na zona euro tenha recuado para os 2% e as taxas de juro estejam a diminuir, o impacto financeiro ainda pesa nas famílias, especialmente nos países do sul da Europa. Em Portugal, os consumidores sentem intensamente esses efeitos, ajustando hábitos de consumo e recorrendo ao crédito para despesas de última hora.
A Intrum é uma empresa de gestão de crédito e serviços de recuperação de dívida. Fundada na Suécia a Intrum opera em cerca de 25 países, incluindo Portugal.
A necessidade de adaptação é evidenciada no relatório, que aponta que 61% dos consumidores portugueses conseguem cumprir as suas obrigações financeiras a tempo, um valor inferior à média europeia de 74%, no entanto, esse cumprimento não é fruto de um aumento de rendimento, mas sim de ajustes nos gastos e da prioridade a despesas essenciais, a situação é ainda mais preocupante para jovens e famílias, que têm enfrentado maiores dificuldades para lidar com o custo de vida elevado, em média, 37% dos europeus recorrem ao crédito para cobrir despesas inesperadas, mas em Portugal esta prática é ainda mais comum devido às pressões financeiras persistentes.
Entre os desafios mais sentidos pela população jovem está o impacto do consumo impulsivo online e o receio da perda de empregos para a inteligência artificial, o relatório revela que 53% dos jovens europeus admitem gastar além do que pode nas plataformas online, impulsionados pela conveniência das compras digitais e pelas estratégias de marketing das redes sociais, estes comportamentos têm gerado endividamento entre os jovens, que enfrentam dificuldades para se estabilizarem financeiramente.
A crescente implementação de inteligência artificial (IA) no setor financeiro é outro ponto de interesse, por um lado, a IA tem permitido um atendimento mais objetivo e sem julgamento, algo valorizado por 25% dos consumidores que preferem discutir questões de pagamento com bots em vez de humanos, por outro lado, 52% dos europeus expressam sérias preocupações com a privacidade dos seus dados e a potencial falta de empatia em decisões de crédito automatizadas, este dilema reflete-se também em Portugal, onde muitos consumidores ainda se adaptam a essa nova realidade tecnológica, que promete eficiência mas desperta incertezas. O panorama traçado por este Relatório Europeu destaca um caminho de recuperação financeira que ainda é frágil e desigual, a dependência de crédito e as dificuldades para cobrir despesas inesperadas permanecem realidades para grande parte dos portugueses, o impacto da IA e das redes sociais na forma como os consumidores lidam com suas finanças deverá ser um fator a a ter em conta, dado o seu potencial tanto para facilitar como para complicar a vida financeira de muitos.
Consumo e Impacto das Redes Sociais
O relatório identifica uma relação direta entre o uso das redes sociais e os comportamentos de consumo excessivo entre os mais jovens:
– 53% dos jovens admitiram gastar mais do que podiam devido à conveniência das compras online.
– 45% dos consumidores relatam que fazem mais compras impulsivas online em comparação a dois anos atrás, sendo este número mais elevado entre jovens de 22 a 37 anos.
Entre os consumidores portugueses:
– 61% conseguem pagar todas as suas contas a tempo, um valor inferior à média europeia.
– A dependência de crédito de curto prazo para cobrir despesas inesperadas é elevada, refletindo a persistência de pressões financeiras.
Embora haja sinais de melhoria, a confiança na estabilidade financeira de longo prazo ainda está por construir. O relatório sugere a necessidade de abordagens compassivas e de apoio aos consumidores, especialmente nas regiões mais vulneráveis. Para Portugal, a prioridade deve estar na implementação de políticas que promovam maior literacia financeira, na transparência em relação ao uso da IA no setor financeiro e no estímulo a práticas de consumo mais sustentáveis e responsáveis. O futuro financeiro da Europa, e particularmente de Portugal, dependerá da capacidade de adaptação dos consumidores e do setor financeiro, face às rápidas mudanças tecnológicas e económicas.