O relatório da EY Global (Ernst & Young Global Shadow Economy Report 2025) analisa a economia paralela (ou informal), destacando a sua persistência e impactos negativos nos sistemas fiscais, na competitividade empresarial e na equidade social. Este relatório aponta que, apesar de uma tendência de redução, a economia paralela continua significativa em países do sul e leste da Europa. A digitalização e políticas de incentivo à formalização mostram-se eficazes, enquanto setores como construção, agricultura e hospitalidade permanecem mais afetados. A confiança nas instituições e a eficácia da fiscalização são determinantes.
Portugal fechou 2023 com uma economia paralela estimada em 9,3% do seu PIB, segundo o mais recente relatório “Shadow Economy Exposed” da EY. Apesar de o número se manter acima da média europeia ocidental, representa um progresso face a anos anteriores e evidencia um caminho lento, mas estável, de combate à informalidade. Esta redução coloca o país entre os que mais reduziram a dimensão da economia não registada nos últimos 20 anos.
A economia paralela – ou informal – abrange atividades económicas não declaradas às autoridades fiscais, como trabalho não registado ou faturação por fora. Esta realidade tem implicações profundas nas finanças públicas, na concorrência entre empresas e na coesão social.
O relatório da EY, que analisou 131 países entre 2000 e 2023, confirma que a informalidade é uma preocupação global, mas com expressões distintas entre regiões. Em Portugal, o desafio permanece, especialmente em setores como construção, restauração e turismo.
Em relação à Europa:
A economia paralela representa aproximadamente 17,3% do PIB médio da Europa em 2023 .
A tendência geral é de declínio da economia paralela, com uma redução média de 2 pontos percentuais desde 2016.
Os países do sul e do leste europeu apresentam níveis superiores de informalidade, com destaque para Bulgária, Roménia, Croácia e Grécia.
Setores mais expostos: construção, agricultura, hospitalidade, e serviços pessoais.
A digitalização, especialmente pagamentos eletrónicos, contribui para a redução da informalidade.
A perceção de justiça fiscal e a confiança nas instituições são cruciais para combater a economia paralela.
O sub-reporte de rendimentos e o trabalho não declarado são as principais formas de atividade informal.
A transição verde e a transformação digital são oportunidades para incentivar a formalização.
Em relação a Portugal:
A economia paralela em Portugal equivale a 17,7% do PIB em 2023 — ligeiramente acima da média europeia .
Houve uma redução de 1,8 pontos percentuais desde 2016, refletindo melhorias nas políticas públicas e fiscalização.
A informalidade é mais comum nos setores de construção, turismo, restauração e trabalho doméstico.
A confiança dos cidadãos nas instituições públicas e na justiça fiscal é relativamente baixa, o que contribui para a informalidade.
Portugal adotou medidas de incentivo à faturação eletrónica e de penalização ao uso de numerário que mostraram eficácia.
O país enfrenta desafios em zonas rurais e entre pequenas empresas familiares, onde o controlo é mais difícil.
O subemprego e o trabalho sazonal alimentam a economia informal em algumas regiões portuguesas.
A necessidade de conter défices públicos, reforçar o financiamento de serviços essenciais e cumprir metas ambientais e digitais levou muitos governos, incluindo o português, a reforçar o combate à evasão fiscal. Incentivos à faturação eletrónica, maior fiscalização e promoção de pagamentos digitais fazem parte do arsenal utilizado.
Em 2000, a economia paralela portuguesa rondava os 11,8% do PIB. Desde então, assistiu-se a uma descida paulatina, com quebras mais expressivas após 2013, altura em que começaram a ser implementadas soluções digitais no sistema fiscal.
Entre 2013 e 2023, a redução foi de 2,1 pontos percentuais. No entanto, a travagem nos últimos anos – apenas 0,1 ponto entre 2019 e 2023 – indica um possível esgotamento das medidas atuais.
O próximo passo passa por atacar causas estruturais da informalidade, burocracia para pequenos negócios, insegurança jurídica e exclusão digital. A digitalização e a interoperabilidade entre serviços públicos podem ser alavancas poderosas nesta luta.
Portugal está a fazer progressos visíveis no combate à economia paralela, tendo alcançado um dos seus níveis mais baixos em duas décadas. No entanto, permanece num patamar intermédio em comparação com os seus pares europeus.
A continuidade desta tendência exigirá novas estratégias, mais centradas na simplificação administrativa, incentivo à formalização e promoção de uma cultura fiscal de confiança mútua.
Num país com forte tradição de pequenos negócios e autoemprego, criar um ecossistema fiscal justo e acessível é, acima de tudo, um passo essencial para construir uma sociedade mais equilibrada e com oportunidades para todos.
E como acredito que cada euro que entra nos cofres do Estado pode, quando bem gerido, melhorar a vida de todos nós, vale a pena continuar este esforço coletivo.