Há metais que não são apenas “commodities”, são espelhos do tempo.
O ouro está a refletir um mundo em transformação, incertezas geopolíticas, desconfiança nas moedas tradicionais e uma busca desesperada por refúgio.
Em 2025, o ouro não só brilhou como se tornou o ativo mais cobiçado dos mercados, com uma valorização de mais de 40% desde janeiro, um desempenho que deixa para trás até o bitcoin e o S&P 500.
Mas o que está por trás desse rally? E por que, mesmo em tempos de euforia nas bolsas, o ouro continua a ser o porto seguro de eleição?
O ouro não sobe por acaso. Sobe quando o mundo treme.
E 2025 tem sido um ano de abalos, tensões comerciais agravadas pela administração Trump, um dólar em queda livre (a maior desde 1973, segundo a Morgan Stanley), e bancos centrais a acumular reservas do metal amarelo como nunca desde 1996.
Os números não mentem: as reservas de ouro dos bancos centrais estrangeiros já superam as de títulos do Tesouro americano, um sinal claro de que a confiança no dólar está a esmorecer.
Se há uma regra de ouro (nunca melhor empregue) nos mercados, é esta, quando os juros caem, o ouro sobe.
E 2025 está a ser o ano em que essa máxima se confirma. Com a economia americana a dar sinais de fadiga, o desemprego subiu, o consumo arrefeceu, o mercado já descontou não um, mas vários cortes nas taxas de juro. E o ouro, que não paga juros mas também não perde valor com a inflação, torna-se irresistível.
Mas atenção: este não é um rally baseado em inovação ou em promessas de revolução tecnológica. É um rally defensivo, alimentado pelo medo.
O ouro não é só um metal, é um sinal
O ouro está a dizer-nos algo. Está a dizer que o mundo está nervoso, que as alianças estão a mudarem, que o dinheiro já não é o que era. Em 2025, o ouro não é apenas um investimento, é um sintoma.
E como escreveu Eduardo Galeano, “a história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será”. O ouro, esse velho profeta, está a anunciar tempos interessantes.