O mundo das criptomoedas está em ebulição, a Bitcoin, a criptomoeda mais famosa do planeta, ultrapassou ontem a marca dos 123.500 dólares, um recorde absoluto que deixou analistas e investidores de queixo caído, não é apenas um número, é um sinal de que algo fundamental está a mudar na economia global.
Desde o início do ano, o Bitcoin já valorizou 31%, e se recuarmos a abril, quando o mercado parecia desanimado, a subida é de impressionantes 60%, mas o que está por trás deste rally? A resposta não é simples, mas há pistas claras, a procura institucional, a política monetária dos EUA e uma mudança regulatória que promete abrir portas para milhões de novos investidores.
O fluxo de capital para fundos negociados em bolsa (ETFs) de Bitcoin tem sido um dos grandes impulsionadores, empresas públicas, inspiradas pela estratégia agressiva da MicroStrategy, que transformou o Bitcoin numa peça central do seu balanço, estão a adicionar a criptomoeda aos seus ativos, não se trata apenas de especulação, é uma aposta estratégica num futuro onde o dinheiro digital ganha legitimidade.
Mas há mais, a administração do presidente Donald Trump tem sido uma aliada inesperada, com uma postura pró-criptomoedas, o governo norte-americano está a pressionar por uma maior integração dos ativos digitais na economia tradicional. Na semana passada, Trump assinou uma ordem executiva que instrui o Departamento do Trabalho a explorar a possibilidade de incluir criptomoedas nos planos de reforma 401(k), os fundos de pensões dos americanos. Se concretizado, este passo poderia democratizar o acesso ao Bitcoin, trazendo milhões de pequenos investidores para o mercado.
“A administração está a empurrar as criptomoedas. Estão a empurrar o Bitcoin. O Bitcoin é o líder do mercado cripto”, afirmou Tom Essaye, fundador da Sevens Report Research, em entrevista à Yahoo Finance, “a longo prazo, há mudanças fundamentais que são positivas.”
Enquanto o Bitcoin rouba as manchetes, o Ethereum, a segunda maior criptomoeda do mundo, está a viver o seu próprio momento de glória. O ETH, a moeda nativa da plataforma, atingiu esta semana 4.700 dólares, aproximando-se do seu recorde histórico de 2021.
O segredo do Ethereum não está apenas no seu valor, mas na sua utilidade, a plataforma é a espinha dorsal da finança descentralizada (DeFi) e dos stablecoins, moedas digitais colateralizadas em ativos tradicionais, como o dólar. Empresas de Wall Street estão a acumular ETH não só como investimento, mas como aposta na infraestrutura do futuro financeiro.
O optimismo em torno do Ethereum também é alimentado por mudanças regulatórias. A aprovação do GENIUS Act, que estabelece regras claras para os stablecoins, e o anúncio da SEC do projeto “Project Crypto”, uma iniciativa para modernizar a regulação de ativos digitais, deram um novo fôlego ao mercado.
O rally das criptomoedas não acontece no vazio, está inserido num ambiente de apetite por risco, impulsionado pela expectativa de que o Federal Reserve (Fed) vá cortar as taxas de juro já em setembro. Os mercados apostam até numa redução de 50 pontos base, depois de declarações otimistas do secretário do Tesouro, Scott Bessent.
“Se tivéssemos visto estes números em maio ou junho, provavelmente já teríamos cortes de juros. Isso diz-me que há uma boa chance de um corte de 50 pontos percentuais em setembro”, afirmou Bessent à Bloomberg.
Um dólar mais fraco e juros mais baixos são um prato cheio para ativos de risco, como ações e criptomoedas. O Bitcoin, muitas vezes apelidado de “ouro digital”, beneficia especialmente deste ambiente, pois é visto como uma reserva de valor alternativa em tempos de incerteza monetária.
Enquanto os EUA lideram o otimismo, a Europa e a Ásia mostram sinais de cautela. Na Ásia, os mercados acionistas, como o Japão e a Coreia do Sul, deram uma pausa após uma semana de fortes subidas. Na Europa, os investidores aguardam os dados preliminares do PIB do segundo trimestre na Zona Euro e no Reino Unido, que podem dar pistas sobre o impacto das tensões comerciais e das novas tarifas na economia.
O que é certo é que, pela primeira vez, o Bitcoin e o Ethereum não são apenas ativos especulativos, são peças de um quebra-cabeças muito maior, a reinvenção do dinheiro e das finanças num mundo cada vez mais digital.