A Nihon Hidankyo, organização japonesa de sobreviventes dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki, foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz de 2024 pelo seu ativismo contra as armas nucleares. O anúncio foi feito esta sexta-feira, 11 de outubro, pelo Comité Nobel Norueguês em Oslo.
Num momento em que o tabu contra o uso de armas nucleares está sob pressão, o Comité Nobel optou por homenagear aqueles que carregam as cicatrizes mais profundas da era atómica. Jørgen Watne Frydnes, presidente do Comité, afirmou que o prémio visa “honrar todos os sobreviventes que, apesar do sofrimento físico e das memórias dolorosas, escolheram usar a sua custosa experiência para cultivar esperança e empenho pela paz”. A reação do presidente da Hidankyo, Tomoyuki Mimaki, foi de pura emoção: “É mesmo verdade? Inacreditável!”, exclamou entre lágrimas ao receber a notícia na Câmara Municipal de Hiroshima. A escolha da Nihon Hidankyo não poderia ser mais oportuna. Com conflitos devastadores a assolar o Médio Oriente, a Ucrânia e o Sudão, e a retórica nuclear da Rússia a pairar sobre a invasão da Ucrânia, o Comité Nobel lança um alerta claro.
“É muito evidente que as ameaças de uso de armas nucleares estão a pressionar a importante norma internacional, o tabu do uso de armas nucleares”, alertou Watne Frydnes. “E, portanto, é alarmante ver como as ameaças de uso também estão a danificar esta norma. Manter um tabu internacional forte contra o uso é crucial para toda a humanidade.”
Esta não é a primeira vez que os esforços para erradicar as armas nucleares são reconhecidos pelo Comité Nobel. Em 2017, a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares foi laureada, e em 1995, Joseph Rotblat e as Conferências Pugwash sobre Ciência e Assuntos Mundiais foram premiados pelos seus esforços para diminuir o papel das armas nucleares na política internacional. O prémio, que inclui uma recompensa monetária de 11 milhões de coroas suecas (cerca de 1 milhão de euros), será sem dúvida um impulso significativo para a causa da Nihon Hidankyo.
À medida que o eco das explosões de Hiroshima e Nagasaki se desvanece na memória coletiva, o Prémio Nobel da Paz de 2024 serve como uma memória poderosa. As vozes dos sobreviventes, carregadas de dor mas também de esperança, continuam a ser cruciais na luta contra a proliferação nuclear.
Num mundo onde as ameaças nucleares voltam a ganhar destaque, a mensagem da Nihon Hidankyo é mais relevante do que nunca. O prémio não é apenas um reconhecimento do passado, mas um apelo urgente para o futuro: um futuro onde as armas nucleares sejam relegadas para os livros de história, e não para os arsenais militares. Será que este reconhecimento global conseguirá reacender o debate sobre o desarmamento nuclear? Ou será apenas mais um capítulo na longa e árdua luta contra estas armas de destruição massiva? O tempo dirá, mas por agora, os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki têm o palco mundial para partilhar a sua mensagem de paz.