Crianças, meditação e momentos Zen – uma combinação que qualquer pai do mundo ocidental deste século em particular diz ser impossível. As notícias relacionadas com o bem-estar e crescimento saudável das nossas crianças que atualmente surgem, são sempre reflexo de um cenário negro revestido de hiperatividade disfarçada com a administração de ritalina, sendo ainda pautado pelas necessárias extensas horas de aulas e de atividades de tempos livres, para que o tempo que os progenitores não dispõem seja preenchido de forma a não haver vazios… porque os vazios ainda metem medo.
Muitos são os cientistas cognitivo-comportamentais que se dedicam a olhar criticamente para a sociedade de hoje em dia, em que as distrações viraram ocupações e cujas consequências não são visíveis a olho nu. Crianças desatentas, hiperativas, sonolentas, sem vontade de aprender, tudo isso são sintomas da forma como o estudo se encontra posicionado na sociedade contemporânea.
Com a recente massificação das filosofias orientais e da divulgação científica em neurociências começou a ficar mais fácil para os pais curiosos se inteirarem das conclusões de estudos que têm sido levados a cabo em escolas, onde um tipo de estudo mais Zen foi estimulado através da prática de yoga e de meditação. As conclusões da maioria destes estudos são claras – as crianças melhoram a sua memória, a atenção e a concentração.
Para além disso muitos mais foram os benefícios identificados, nomeadamente a melhoria do relacionamento entre os alunos (a afetividade aumentou entre pares), pais, professores, o desempenho escolar aumenta de forma generalizada, e de forma inversa os índices de violência escolar baixam.
Tendo estas conclusões em consideração, a pergunta impõe-se: Porque é que as escolas ainda não integram o yoga/meditação nos seus currículos?
Existem várias respostas para esta questão, mas a principal (e que se ouve muito em surdina em conversas de café) prende-se com a associação religiosa a estas duas filosofias, bem como os preconceitos que surgem associados ao próprio desconhecimento dos conceitos, nomeadamente do de meditação. Por isso este é o momento de esclarecer as suas dúvidas!
A meditação é um conjunto de técnicas de interiorização e de relaxamento com base na respiração e tomada de consciência postural normalmente utilizadas com o objetivo de acalmar a mente. Quando se medita, consegue-se entrar em estado de relaxamento profundo, que está comprovado cientificamente ser uma sensação de repouso duas vezes maior do que a correspondente às normais oito horas de sono. Todavia meditar não é tornarmo-nos apáticos. É repousar em alerta para o corpo e para as suas sensações, o que faz aumentar a perceção, expandir a consciência e diminuir a ansiedade.
Ao utilizar técnicas como a meditação, posturas de yoga, exercícios de relaxamento, e outras derivadas da filosofia/educação oriental, as crianças aprendem desde cedo a olhar para dentro de si permitindo a geração interna de uma calma generalizada que depois é transmutada em todas as vertentes da sua vida.
Atualmente, e derivado à tão fácil disseminação da informação e já se começa a compreender que educar crianças deve ser uma tarefa holística e que não pode ser apenas um processo de acumulação de informações e estímulos, por isso é pôr mãos à obra e ajudar as nossas crianças a encontrar o seu equilíbrio.
Agora que já ficou a pensar sobre o assunto, deve estar momentaneamente a debater-se com a questão de a teoria ser interessante mas na prática ainda não existirem infraestruturas suficientes para dar suporte à implementação deste tipo de abordagem nas escolas. Em parte, tem razão. Mas porque a mudança começa localmente, e só depois se espalha para as grandes massas, é importante que não deixe de conhecer o trabalho desenvolvido no Estúd(i)o Zen.
Criado pelas mentoras Ana Roque (professora de matemática e de ciências e instrutora de Happy Yoga) e Vera Chorão (professora de português e inglês e instrutora de Happy Yoga) o Estúd(i)o Zen é um projeto educativo com sede em Telheiras, que promove práticas de bem-estar/desenvolvimento pessoal e utiliza técnicas de yoga nas atividades escolares a fim de obter alunos mais calmos, pacíficos, felizes, relaxados, criativos e concentrados.
Inspiradas na experiência e nos ensinamentos do RYE (Recherche sur le Yoga dans l’Education), as mentoras procuraram focar o projeto no acompanhamento de crianças e adolescentes no âmbito do estudo do português e da matemática, aplicando alguns exercícios de Yoga que trabalham o aumento da concentração e da atenção, a tomada de consciência do corpo e de oscilações emocionais, o desbloqueamento de stress mental e a libertação de estados de tensão físicos e emocionais.
Ao desenvolverem aulas de yoga regulares, bem como planos de acompanhamento especializado para crianças e adolescentes onde são integrados exercícios de meditação e yoga, procuram fornecer aos alunos ferramentas que lhes permitam obter um percurso escolar sólido, no qual desenvolvam a curiosidade e a criatividade, aprofundem conhecimentos e criem métodos de estudo que lhes tragam auto-confiança e bem-estar consigo próprios e na relação com os outros.
“Mente sã em corpo são” é uma frase que muitas vezes esquecemos na correria do dia-a-dia que deturpa o tempo que temos para nós e para as nossas crianças. Tentemos ter mais presente a necessidade deste equilíbrio tão importante, não esquecendo que o podemos desenvolver e fomentar através da prática da meditação e de exercícios de yoga, na sala de aula, fora dela, em qualquer lugar. Quanto às crianças, não se esqueça dos maravilhosos benefícios que estas atividades lhes trazem e que se resumem na criação de uma estrutura saudável para experiências felizes na escola e na vida.
Nota: Se quiser saber mais informações sobre o trabalho desenvolvido no âmbito do projeto Estúd(i)o Zen basta aceder ao Facebook e site do Estúd(i)io Zen.