Grande Lisboa enfrenta desafios estruturais no mercado imobiliário corporativo
Lisboa poderá assistir à degradação de 64% do seu stock de edifícios de escritórios até 2030, de acordo com o relatório RETHINKING European Offices 2030, a cidade junta-se a outras capitais europeias que enfrentam desafios semelhantes, com um total de 2,86 milhões de metros quadrados em risco, entre os fatores críticos estão legislações ambientais mais rigorosas, a competição de novos projetos de maior qualidade e mudanças nas necessidades corporativas.
O mercado de escritórios em Lisboa encontra-se num momento de transformação acelerada, dados revelam que 429.000 m² de novos espaços entrarão no mercado nos próximos quatro anos, sendo 234.400 m² já em construção, entretanto, o stock mais antigo, especialmente aquele construído antes de 2004 e sem intervenções significativas, enfrenta dificuldades para atender às exigências atuais de eficiência energética e sustentabilidade.
Este problema não é exclusivo de Lisboa. Em toda a Europa, mais de 170 milhões de metros quadrados de escritórios estão em risco, com cidades como Milão (86%), Barcelona (81%) e Paris (80%) liderando a lista. Lisboa, com 64%, posiciona-se ao lado de Berlim e Dublin no ranking.
Zonas mais pressionadas em Lisboa
A taxa de desocupação em Lisboa está atualmente em 7,2%, mas as zonas mais procuradas – como a Avenida da Liberdade, Marquês de Pombal e Saldanha e as Novas Zonas de Escritórios, como o Parque das Nações – enfrentam maior pressão. Este cenário é agravado pelas rendas prime, que atingiram os valores mais elevados das últimas três décadas, refletindo a alta procura por imóveis modernos e bem localizados.
Repercussões Políticas e Sociais
O impacto económico deste declínio funcional poderá ser significativo, a ineficiência energética e a inadequação às novas regulamentações climáticas colocam pressão sobre proprietários e investidores para renovar ou reconverter ativos, além disso, a necessidade de espaços mais sustentáveis reflete uma mudança na forma como as empresas utilizam escritórios, o que poderá redefinir o mercado imobiliário da cidade.
O relatório aponta que o reposicionamento de edifícios é a solução mais viável para zonas centrais, com foco na conversão para usos como hotelaria e habitação, nas periferias, há uma procura crescente por instalações de saúde, laboratórios e centros de dados, estas soluções não apenas revitalizam imóveis, mas também atendem a novas procuras de mercado.
Diferenças Regionais na Europa
O contraste entre os riscos enfrentados por cidades da Europa Ocidental e Oriental é evidente, enquanto menos de 20% do stock ocidental foi desenvolvido nas últimas duas décadas, países como Polónia, Hungria e República Checa beneficiam de património mais recente, com menores índices de inadequação. Varsóvia lidera com apenas 40% do seu stock em risco.
Lisboa enfrenta assim um dilema, renovar o seu stock imobiliário para atender aos padrões de sustentabilidade ou arriscar uma perda significativa de competitividade. Com legislações ambientais cada vez mais exigentes e o aumento de novos projetos de qualidade superior, o mercado terá de se adaptar rapidamente para evitar o aumento da desocupação e os impactos económicos associados.
Os próximos anos serão críticos para determinar a resiliência do setor, a renegociação de contratos de arrendamento e a reavaliação das necessidades das empresas deverão moldar o mercado até 2030 e além, Lisboa tem a oportunidade de se posicionar como um exemplo de adaptação sustentável no panorama europeu, mas o tempo é essencial para essa transformação.