“Longe da vista, longe do coração” é um ditado tipicamente português que espelha uma realidade mundial no que toca à comumente discutida problemática ambiental. Sempre que o problema da conservação e preservação do meio ambiente emerge é comum ver-se de uma forma quase patriótica, pessoas ofendidas dizendo que o ambiente é cada vez mais a sua causa e que em suas casas a reciclagem nunca é esquecida, possuem painéis solares e até têm controladores de caudal em todas as torneiras.
Posto isto a pergunta que se impõe é: farão elas isso realmente pelo ambiente ou porque ao agir desta forma conseguirão poupar dinheiro?
O Homem vive e trabalha tipicamente em função do dinheiro, que por consequência lhe traz bem-estar (ou pelo menos esta é a crença comum). Assim sendo, desde que tudo à sua volta contribua para a manutenção e melhoria da sua qualidade de vida, ele irá tentar sempre disfrutar dela sem grandes preocupações.
Não estamos de forma alguma ainda capacitados para pensar nos objetos que possuímos em termos do seu ciclo de vida, isto é, em termos dos recursos naturais que foram necessários obter para conseguir constituir o produto final que temos em mãos.
Quando usufruímos de todas as aplicações e benefícios que a tecnologia de um smartphone nos oferece, nunca em momento algum pensamos, em todos os recursos que foram necessários para o obter (desde as borrachas para os componentes eletrónicos até à areia e energia necessárias para constituir o vidro do seu visor).
Em comparação, e de uma forma mais simplificada analisemos um objeto mais simples que um smartphone e que é nada mais nada menos que um saco de plástico. As vantagens desta “tecnologia” que apareceu em 1970 e que foi largamente difundida até aos nossos dias são variadíssimas, sendo a durabilidade, flexibilidade e capacidade de cargas pesadas aquelas que mais se destacam. Tendo sido considerado como largamente funcional, o saco de plástico passou a ter uma utilização cada vez mais frequente – fosse para colocar o lixo, fosse para forrar gavetas, fosse para que utilização fosse – sendo cada vez mais o seu uso um retrato fiel do consumismo desmesurado, sobretudo na medida em que, como não se pagavam, as pessoas levavam consigo mais do que aqueles que lhes seriam necessários.
Sendo constituídos por polímeros, a durabilidade dos sacos de plástico que outrora se constituía como uma vantagem, passou a ser uma grande desvantagem em termos ambientais, sobretudo devido ao tempo elevado de degradação destes polímeros na natureza.
Alertados para este facto começaram-se a estabelecer diversas campanhas que comunicavam os problemas do uso dos sacos de plástico, verdades que não convinham à grande sociedade de consumo ouvir. Mas, tal como acontece em tantas outras áreas do ambiente, também aqui o planeta terra se fez ouvir de forma mais eficaz.
Corria o ano de 1997, quando o capitão Charles Moore durante uma viagem de Barco entre Los Angeles e Honolulu descobriu uma enorme massa de lixo no Pacífico, composta por mais de três milhões de toneladas de plástico e cuja área era cerca de 32 vezes maior que Portugal.
A tão aparente inócua utilização de sacos de plástico que viera facilitar a vida a inúmeras pessoas no mundo estava agora mostrar o seu lado negro. De 1970 a 1997 muitos dos sacos de plástico inutilizados e deitados para o meio ambiente sem recurso a qualquer tipo de reciclagem tinham-se aglomerado no Pacífico, depois de viagens ao sabor de correntes oceânicas.
Mas a investigação realizada por Moore que inicialmente já de si havia sido chocante, acabou por se revelar ainda mais complexa quando para além do primeiro aglomerado de plástico, se apercebeu da existência de uma verdadeira ilha de lixo permanente com mais de 15 metros. A ilha era em tudo idêntica a uma ilha normal, com rochas, vida marinha e biodiversidade, mas com uma única particularidade: era feita de lixo.
Um dos estudos mais recentes deu conta que 35% dos peixes e aves encontrados naquela região já tinham comido plástico durante a sua vida, pelo que consequências nefastas na preservação da biodiversidade se fazem esperar muito brevemente, sendo algumas já visíveis em cadáveres de animais asfixiados por ingestão de partes de embalagens feitas de plástico, nessa mesma região.
É de notar ainda que, recentemente se descobriu também no Atlântico Norte, outra ilha de plástico, que ocupa uma extensa zona localizada entre a costa leste da Florida e as Bermudas, sendo descrita como uma enorme lixeira flutuante, para onde convergem plásticos de todos os tamanhos e feitios.
Parando para refletir sobre este cenário apercebemo-nos que é importante analisar a causa deste fenómeno, para que se torne mais fácil a elaboração de diretrizes que impeçam a sua proliferação.
A resposta óbvia para a causa direta desta situação é o Homem. Tudo isto aconteceu devido ao fenómeno já frequentemente estudado pelo ramo da sociologia do ambiente designado por “NIMBY – Not in my backyard”, cuja tradução direta é “não no meu quintal”. Este fenómeno acontece em tudo o que envolva o acto de poluir por parte do ser humano. Desde que essa poluição não se acumule no seu quintal, qualquer pessoa vive bem com os desperdícios que produz, bem à semelhança do ditado já acima citado “longe da vista, longe do coração”.
O problema de conservação do meio ambiente, da preservação dos recursos naturais e da biodiversidade passa todo ele pela criação de uma consciência coletiva em que todos operem em prol do bem comum, caso contrário o planeta continuará a fustigar-nos com ilhas de plástico, furacões, mortes de animais em massa, e nós, com a maior serenidade continuaremos a alegar que a culpa não é nossa dizendo- Não fui eu.