É cada vez mais evidente, sobretudo através das comunicações dos media que as preocupações ambientais são o centro das preocupações das agendas políticas. Na televisão, na rádio, nos jornais, e até de boca em boca, não há dia que passe sem a abordagem de assuntos relacionados com a problemática ambiental.
Contudo, desengane-se quem pensar que isto sempre assim foi. Até à data da escrita de Silent Spring de Rachel Carson, nunca se tinha verificado qualquer mobilização no sentido de alertar a população para a má gestão dos recursos e para as suas inevitáveis consequências, daí que, após a sua edição, tudo começou a levar um rumo diferente.
Novos projectos começaram a aparecer, nomeadamente a escrita de mais livros interventivos onde autores conceituados expunham as suas ideias relativas a esta temática.
Um dos escritores que mais se destacou foi Jared Diamond com a edição do livro “Armas, Germes e Aço” onde procedeu à radiografia das raízes dos seres humanos, para demonstrar como a combinação do clima e dos recursos naturais havia contribuído de modo significativo para o surgimento e prosperidade das civilizações. Consciente de que o conhecimento era a melhor arma para combater o insucesso da humanidade, Diamond decide então publicar mais um livro: “Colapso: como as sociedades escolhem vencer ou falhar”, onde procede à exposição detalhada dos hábitos insustentáveis das sociedades antigas e os compara amargamente aos das sociedades actuais.
O objectivo fulcral da escrita deste livro foi óbvio – uma chamada de atenção global com o intuito de que o Homem do presente pusesse os olhos nos erros do Homem do passado e tomasse medidas a fim de perpetuar a existência do Homem futuro.
Assim sendo, para ilustrar esta ideia, fez-se valer de descobertas científicas no âmbito da zoologia, sismologia, botânica, história das religiões e física nuclear, e procedeu à análise dos fundamentos que levaram as “grandes civilizações” ao declínio.
O planeta Terra é um ambiente altamente mutável no qual o sucesso e a continuidade da vida estão intimamente ligados à sua capacidade de adaptação às mudanças. As sociedades que souberam cuidar dos seus recursos naturais foram melhor sucedidas do que aquelas que, pelo contrário, exploraram em excesso esses recursos, movidas pela necessidade ou imprevidência, traçando assim o caminho do próprio fracasso.
Foi à luz da insustentabilidade observada que Diamond procedeu a uma das maiores analogias de sempre: o relacionar do colapso ambiental ocorrido na ilha de Páscoa, com o colapso que a sociedade actual está a acelerar cada vez mais.
Situada no meio do oceano Pacífico, a ilha de Páscoa, descoberta em 1722 pelo explorador Jacob Roggeveen foi classificada como um dos pontos mais remotos do planeta. Sendo conhecida pelas centenas de estátuas gigantescas com feições humanas, os Moais, que contemplam o oceano de forma enigmática, esta ilha foi outrora dotada de uma densa flora e foi povoada por uma civilização criativa e ambiciosa, como o atesta o filme Rapa Nui de Kevin Reynolds.
Porém, aquilo que os europeus constataram aquando do desembarque não foi mais do que um povo empobrecido, sobrevivendo numa ilha devastada e sem uma agricultura consistente para poder viver com qualidade. Tudo era solo árido. A desflorestação era evidente.
A explicação para o sucedido deu-a Diamond no seu livro e Kevin Reynolds no filme Rapa Nui. Os habitantes da ilha de Páscoa tinham exagerado na intensidade da exploração dos recursos ambientais que tinham à disposição.
Quando os primeiros seres humanos ali chegaram, por volta do séc. IX da Era Cristã, a ilha era coberta por uma densa floresta tropical, repleta de aves e animais, mas o constante e desmedido abater de árvores para uso agrícola, e a extensiva exploração da madeira para a construção dos grandes Moais, transformaram a região num deserto. Consequentemente, começou a verificar-se uma acentuada extinção das espécies nativas, o que levou à inviabilização da caça e da colheita de frutos. Os recursos em terra começavam a escassear e para complicar a situação, o oceano em volta era pobre em peixes e frutos do mar devido à ausência de corais. O resultado da situação foi inevitável. Em pouco tempo deixou de haver recursos para alimentar a população e o caos começou a instalar-se entre as tribos. Lutas entre clãs faziam adivinhar o rápido colapso daquela civilização.
“O paralelo entre o destino da ilha de Páscoa e o mundo moderno é absurdamente óbvio” afirma Diamond. E de facto tem razão. Graças à globalização, ao comércio internacional, e às tecnologias de informação e comunicação, todos os países do mundo compartilham hoje os mesmos recursos finitos. A ilha de Páscoa era um lugar isolado no Oceano Pacífico, tanto quanto a Terra é um planeta solitário na imensidão do Universo. Quando os habitantes polinésios da ilha se viram em dificuldade, a maioria não teve para onde ir, da mesma forma, também nós não teremos escapatória possível se continuarmos a ser insaciáveis.
Em Rapa Nui assiste-se ao nascer, ao desenvolver e ao morrer de uma civilização que não teve responsabilidade suficiente para gerir os recursos disponíveis. Todos os polinésios cometeram um grande erro: esqueceram-se que a terra que habitavam era uma ilha e a ostentação humana venceu uma vez mais.
Ao devastarem a densa floresta para a construção de monumentos que elevavam o nome e o ego daqueles que as mandavam erguer, conseguiram alterar de tal modo os ecossistemas, que acabaram por se auto-conduzir ao fracasso.
Contudo, a mensagem que é passada tanto em Rapa Nui, como em “Colapso”, não é de todo impregnada de negativismo. Tanto Kevin Reynolds como Jared Diamond acreditam que algo pode ser feito. Afinal, ambos crêem que de todas as sociedades que ao longo da história contemplaram o colapso, apenas a nossa tem a oportunidade de aprender com o passado.
Assim sendo, cabe-nos então a nós avaliar e dar resposta a todas as chamadas de atenção para o que realmente está a acontecer. A atitude egocêntrica terá que dar lugar à condescendência, para que possamos gozar uma vida digna e aproveitar cada momento ao máximo. Aquilo que fazemos agora, terá implicações no futuro, como tal não podemos de modo algum deixar de pensar nas gerações vindouras que serão a nossa extensão no pedaço de mundo que então restará.