A Argentina enfrentou ontem uma paralisação histórica que afetou praticamente todo o sistema de transportes do país, numa demonstração clara do crescente descontentamento popular com as políticas económicas do Presidente Javier Milei, a greve, que atingiu serviços aéreos, ferroviários e marítimos, afetou mais de um milhão de passageiros e surge como resposta à escalada da pobreza e aos planos de privatização do atual governo.
Os números são reveladores da dimensão do protesto, 1.800 comboios cancelados, 263 voos suspensos e cerca de 27.700 passageiros afetados apenas no sector aéreo, a Trenes Argentinos, operadora ferroviária estatal de Buenos Aires, reportou uma paralisação quase total dos seus serviços, enquanto o metro da capital e os serviços de ferry também aderiram ao movimento.
O protesto emerge num contexto particularmente sensível para a sociedade argentina. Em apenas seis meses, a percentagem de argentinos a viver em situação de pobreza aumentou 11 pontos percentuais, atingindo o alarmante índice de 52,9%.
Milei, que durante a campanha eleitoral empunhou uma motoserra como símbolo da sua promessa de cortar gastos públicos, tem implementado medidas drásticas desde que assumiu o poder, entre as ações mais controversas estão os cortes nos subsídios aos transportes e energia, além da eliminação de milhares de postos de trabalho no sector público.
Embora as políticas de Milei tenham resultado no primeiro superavit orçamental da Argentina em 15 anos, o custo social tem sido devastador. O país encontra-se numa profunda recessão, e o apoio popular ao governo mostra sinais de erosão. A greve de ontem pode ser apenas o início de um período de maior instabilidade social, especialmente considerando que os principais sindicatos de motoristas de autocarro já anunciaram nova paralisação para hoje. A situação atual da Argentina serve como um alerta sobre os riscos de implementar políticas de austeridade severa sem considerar adequadamente o seu impacto social. O equilíbrio entre responsabilidade fiscal e proteção social continua a ser um dos maiores desafios para as democracias contemporâneas.