O choque cultural entre jovens trabalhadores e os seus gestores está a gerar frustração, mas será que estamos a culpar a geração errada?
A Geração Z está a entrar no mercado de trabalho com um perfil que tem deixado muitos empregadores à beira de um ataque de nervos, entre críticas à falta de iniciativa, dificuldades de comunicação e uma aparente falta de ligação com o ambiente corporativo tradicional, a pergunta que se coloca é, estamos a enfrentar um problema geracional ou a lidar com expectativas desajustadas de ambos os lados?
Se nasceste entre 1997 e 2012, parabéns, és da Geração Z e provavelmente já sentiste o desconforto de navegar o mercado de trabalho, o mundo profissional de hoje é profundamente marcado pela digitalização, a pandemia e a globalização, três elementos que, por si só, já alterariam qualquer geração. A frustração dos empregadores tem atingido novos níveis, com críticas a apontarem que esta geração simplesmente “não está à altura”. Será isso justo ou estamos a exigir da Geração Z o que nós mesmos não conseguimos prever e preparar?
Vamos por partes, o cenário que muitos gestores descrevem é assustador, falta de motivação, problemas com pontualidade, baixa capacidade de comunicação e um certo “entitlement” que resulta numa procura rápida por promoções e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. As estatísticas reforçam: 50% dos patrões queixam-se da falta de iniciativa, 65% dos jovens assumem que não comunicam bem, e quase 20% são criticados por não se vestirem adequadamente. Estes números contam parte da história, mas não toda.
O Mito da Falta de Iniciativa
Um dos maiores lamentos dos empregadores é a falta de iniciativa, mas será que isso é fruto de preguiça ou de um modelo de trabalho que já não encaixa no novo mundo digital? A Geração Z cresceu num ambiente onde a hierarquia rígida faz pouco sentido, e onde a inovação, a criatividade e a flexibilidade são mais valorizadas que a conformidade, talvez o que chamamos “falta de iniciativa” seja, na verdade, uma procura por significado e impacto nas tarefas, algo que a estrutura corporativa tradicional ainda não sabe oferecer.
Profissionalismo Versus Experiência Real
É verdade que muitos jovens trabalhadores chegam ao mercado sem a experiência prática de escritório, resultado direto da pandemia, que os empurrou para estágios e empregos online, o problema aqui pode não estar na geração, mas no próprio mundo profissional que se alterou, como se pode exigir profissionalismo e comportamento corporativo num contexto em que o próprio conceito de escritório está a mudar?
Comunicação e Habilidades Organizacionais
Aqui surge uma crítica comum, a dependência excessiva de tecnologia e redes sociais resulta em dificuldades de comunicação e de organização no trabalho. Com uma média de 7,2 horas por dia passadas no telemóvel, pode-se argumentar que a Geração Z tem outras prioridades, a mesma tecnologia que parece distrair também pode ser uma ferramenta poderosa, se bem utilizada. O problema, talvez, não esteja na quantidade de tempo que passam online, mas na falta de orientação para canalizar essa familiaridade digital de forma produtiva no ambiente de trabalho.
Expectativas de Salário e Promoções
Outro ponto de discórdia é a expectativa de salários altos e promoções rápidas. Parece despropositado esperar um aumento salarial logo no início da carreira, certo? Ou será que a Geração Z apenas reconhece o valor do seu tempo de forma mais assertiva? Afinal, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional não deveria ser uma exigência justa para todos? Talvez a questão seja menos sobre arrogância e mais sobre a recusa em aceitar condições de trabalho que já deviam estar ultrapassadas.
A Dificuldade em Gerir a Carga de Trabalho
Alguns empregadores referem que os jovens da Geração Z lutam para gerir o volume de trabalho. Mas será que isto é um reflexo da sua falta de habilidade ou de um sistema que exige demasiado demasiado cedo? Quando tantos jovens entram no mercado sem formação prática suficiente, torna-se difícil acompanhar as exigências, o que aponta para a necessidade de reformularmos as expectativas quanto ao que é “competência profissional” num mundo onde as variáveis de trabalho mudaram radicalmente.
65% da Geração Z admite problemas de comunicação no trabalho.
50% dos gestores apontam falta de iniciativa como a maior queixa.
19% dos gestores criticam a forma de vestir dos jovens trabalhadores.
A Geração Z é a primeira a exigir equilíbrio entre vida pessoal e profissional desde o início das suas carreiras.
A Geração Z não é uma geração de preguiçosos ou desinteressados, como muitas vezes são retratados, pelo contrário, têm uma visão diferente do que deve ser o trabalho e o que dele esperam, esta geração procura flexibilidade, significado e condições justas, o que, convenhamos, não é irracional, a frustração dos empregadores é legítima, mas reflete mais um choque de expectativas do que um falhanço completo da geração. A adaptação terá de ser mútua, os gestores precisam de modernizar o seu modelo de gestão e os jovens trabalhadores terão de aprender a navegar melhor as exigências práticas do mercado.
Será que a solução está em reconhecer que o mercado de trabalho precisa de se adaptar, tanto quanto os jovens trabalhadores? Talvez seja hora de repensarmos o que significa ser um bom profissional em tempos de mudança tão rápida.