Cito Sumantra Ghoshal:
If both common sense and empirical evidence suggest the contrary, why does the pessimistic model of people as purely self-interested beings still so dominate management-related theories? The answer lies not in evidence but in ideology.
Sumantra Ghoshal
O Darwinismo, que muitos confundem com a teoria da evolução, teve um papel decisivo na ideologia do Homo Economicus e a mera leitura do título do livro “The Selfish Gene”, do neotalib Richard Dawkings, permite perceber que, sobre a falsa pretensão de conhecimento científico, é criada uma ideologia, senão mesmo uma religião fanática, cujo Deus é o Gene, dono e senhor dos jogos de azar e fortuna, residente em Macau, que reduz a natureza da pessoa humana à ideia dum indivíduo motivado pelo seu interesse próprio ou nem isso.
Argumentar que o termo egoísta não é representativo do conteúdo do livro, tratando-se duma metáfora associado ao papel do gene na evolução, não ajuda muito. O Homo Economicus passa a ser a metáfora vazia e não inteligível do gene egoísta, dado que o significante de egoista perde todo o seu significado… Não só reforça a ideia da desumanização do homem, do sentido de agência e da negação de qualquer moralidade, como trata o autor como um imbecil que não conseguiu sequer acertar no título do livro que ele próprio escreveu. Ora, eu penso que o Richard Dawkings é um homem inteligente, especialmente quando se diverte a escrever artigos como “Do digger wasps commit the concorde fallacy?”.
A que evidência empírica se refere o Sumantra Ghosal? Cito novamente:
Consider, for example, the “ultimatum game” in which one player, designated as the proposer, is given the opportunity to propose a division of a certain sum—a gift— between herself and another player, designated as the responder. If the responder accepts the proposal, the sum is divided as proposed. If he rejects the proposal, neither player receives anything. In any variant of the self-interest-based model of human behavior, the proposer ought to offer only a token sum to the responder, keeping the bulk of the amount for herself, and the responder ought to accept the proposal, since even a token sum is more than nothing, which is the only alternative available to him.
Much to the dismay of all ardent supporters of the Homo Economicus model, including those who have proposed some relatively more sophisticated versions of the model (e.g., Jensen & Meckling, 1994), this outcome almost never materializes in experiments (Camerer & Thaler, 1995). Token offers are rarely made, and even more rarely accepted. Often proposers offer a 60:40 division, taking advantage of their position as first mover, but not exploiting that advantage fully because of their concerns for the responder. Most frequently, however, they propose a 50:50 split, out of a notion of fairness, which suggests that windfalls, that is, gains not merited through contributions but by chance, should be distributed equally among those involved in the event.
O que é que os gestores gerem? Uma organização, a empresa.
Como negar que a essência duma organização é a colaboração entre os indíviduos que a constituem? É redutor estudar uma organização e todas as relações possíveis desses indíviduos com base numa ideia incompleta da pessoa humana, baseada numa pretensa e falida teoria científica, que não é validada por qualquer ponderação sujeita ao mero senso comum, de quem consiga transcender a prisão da corrente das ideias em movimento, das evidências empíricas verificáveis de todos os estudos realizados sobre este tema. Ou a uma pergunta simples. Você é um egoísta que cuida apenas do seu interesse próprio ou é mais do que isso?
Se pensarmos na economia de qualquer sociedade humana, temos que necessariamente, por razões manifestamente evidentes, fazer crescer essa economia das raízes da própria natureza humana. Que ninguem tenha a ilusão que é possível desenvolver a economia, ou até a própria sociedade, com as fundações incompletas da humanidade, porque essa sociedade não resistirá ao tempo e às qualidades e aos defeitos dessa mesma humanidade.
Qual é a natureza humana?
A ideia dos 7 pecados capitais: a gula, a avareza, a luxúria, a ira, a inveja, a preguiça e o orgulho, não pode ser ignorada, porque não podemos negar que a humanidade inclui esses instintos básicos, de cada um cuidar de si próprio.
Mas, tal como não podemos negar essas qualidades humanas, que serão qualidades ou defeitos consoante o contexto e a perspetiva, também somos capazes de agir no interesse do outro, e não é por acaso que existe uma ideia contrária à ideia dos vícios, a ideia das 7 virtudes, a castidade, a generosidade, a temperança, a diligência, a paciência, a caridade e a humildade, que também fazem parte da nossa natureza.
Não vou debater se são estes os atributos da humanidade. Não é sobre isso que escrevo. É suficiente a ideia que tanto somos capazes do egoísmo de apenas cuidarmos de nós próprios, como do altruísmo de cuidarmos dos outros, mesmo em situações onde o interesse dos outros é contrário ao interesse de nós próprios.
São dois princípios estruturantes, cujo efeito é cumulativo: a colaboração e a concorrência. Haverá momentos de tensão e de conflito, tal como, dentro de cada um de nós, existem essas contradições.
Hoje, temos um número sem precedentes de ferramentas e plataformas de comunicação em rede, que não só valorizam e reforçam as relações sociais entre as pessoas, a colaboração no trabalho, a partilha de informação pelo cidadão, que é também jornalista, comentador, político e até cientista, num espírito de relação, como criam valor e riqueza no interesse mútuo dum grupo, duma comunidade, duma consciência coletiva que se forma, temporária ou permanente, espontânea ou planeada, e cuja produtividade, no contexto certo, é inconstestável, como podemos verificar no caso do código de fonte aberta (software open source).
Não se trata da predominância da colaboração sobre a concorrência. A colaboração acontece, muitas vezes, num contexto competitivo, em áreas onde há lugar para a colaboração, dado que existe um interesse comum nessa área específica, mesmo que, noutras áreas, os mesmos indivíduos, que constituem essa consciência coletiva colaborativa, competem com interesses em conflito ou nem sequer são concorrentes.
Um relatório recente da Goldman Sach’s apresenta os números da quota de mercado do Windows da Microsoft que desceu de 97% para apenas 20% em 12 anos, de 2000 a 2012. Nos super computadores, onde sonham inteligência artificial, a quota de mercado do Linux é de 94%.
Ora, o Linux é obra criada e representativa do potencial da consciência colectiva colaborativa. Neste caso concreto, demonstrando a superioridade dum processo de criação e desenvolvimento de software colaborativo e de código aberto, onde a informação é partilhada por todos, sobre um processo de criação e desenvolvimento de software proprietário e fechado, onde o segredo entre empresas concorrentes constitui uma vantagem competitiva, no imediato e curto prazo.
Na nova economia, você terá que aprender a concorrer e a colaborar e saber quando e como competir ou colaborar. Quem não dominar estas duas competências, saberá apenas metade da receita.