Atenas, 3 de novembro de 2025, a luz do sol ainda mal tocava as ruas de Atenas quando as autoridades gregas, munidas de um mandado de detenção europeu emitido pela França, bateram à porta de um apartamento igual a tantos outros. Dentro, um homem de 38 anos, de nacionalidade albanesa, não imaginava que aquele seria o fim de um império invisível, construído à sombra da internet.
Ele era, segundo a Europol, o cérebro por trás do VenomRAT, um dos malwares mais perigosos dos últimos anos. A prisão fez parte da Operação Endgame, uma ofensiva global sem precedentes contra o cibercrime, coordenada entre 10 e 13 de novembro de 2025, a partir da sede da Europol, em Haia.
O Veneno Digital! Como um RAT se Tornou uma Ameaça Global
O VenomRAT não era apenas mais um malware, era uma arma de roubo em massa, projetada para invadir computadores, registrar cada tecla digitada, ativar câmeras sem consentimento, infiltrar-se em conversas e, o mais lucrativo de tudo, drenar carteiras de criptomoedas.
Vendido como um “serviço” no submundo digital, o VenomRAT era comercializado com preços que variavam entre 150 euros por mês e 1.550 euros por ano, um negócio lucrativo. Nas buscas à sua residência, as autoridades encontraram 7 discos rígidos, 3 pen drives e, sobretudo, uma carteira digital com 140.424 dólares em criptomoedas, provas de que o crime, mesmo quando invisível, deixa sempre rastros.
Mas o VenomRAT não agia sozinho. Junto a ele, a operação mirou outros dois alvos, o malware Rhadamanthys e a botnet Elysium, responsáveis por infectar centenas de milhares de computadores em todo o mundo. Muitas das vítimas nem sequer sabiam que seus sistemas estavam comprometidos, enquanto milhões de dados, passwords, dados bancários e informações pessoais, eram roubados e negociados nas sombras da dark web.
Uma Operação Sem Fronteiras
A Operação Endgame não foi uma operação polícial solitária, foi um esforço coordenado entre 11 países, Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Lituânia, Países Baixos, Reino Unido e EUA, e mais de 30 entidades públicas e privadas. O resultado? 1 prisão na Grécia, 11 buscas em três países, 1.025 servidores desativados e 20 domínios apreendidos.
O impacto foi além dos números, a infraestrutura desmantelada dava acesso a mais de 100.000 carteiras de criptomoedas de vítimas, com um potencial de prejuízo que poderia chegar a milhões de euros. E, pela primeira vez, as autoridades conseguiram apreender o código-fonte do malware, além de evidências que ligavam o detido à gestão de um site que promovia o VenomRAT.
O Rosto Humano do Cibercrime
O que torna essa história ainda mais perturbadora é a banalidade do mal, o homem preso em Atenas não era um gênio do crime organizado, mas um empreendedor do caos digital, que transformou a vulnerabilidade alheia em lucro. Enquanto ele vendia acesso ao VenomRAT, milhões de pessoas tinham as suas vidas expostas, desde o estudante que salvava as suas passwords no navegador até o pequeno empresário que guardava as suas economias em criptomoedas.
A prisão em Atenas é um marco, mas não é o fim, a Operação Endgame revelou uma verdade incômoda, o cibercrime não tem fronteiras, e as suas vítimas são, muitas vezes, invisíveis. Enquanto as autoridades celebram a queda de uma das maiores redes de malware da Europa, resta uma pergunta: quantos outros “criadores” ainda operam nas sombras?
O homem de 38 anos agora enfrenta a justiça francesa, mas o seu caso é um lembrança de que, na era digital, a segurança é tão frágil quanto a password que escolhemos. E, enquanto a tecnologia avança, a linha entre o mundo real e o virtual torna-se cada vez mais tênue.