Quando lemos um texto onde alguém ousa refletir sobre o conceito de liderança é natural que surjam mais dúvidas do que certezas ao final da leitura. E esta é uma das mais fabulosas qualidades dessa faculdade humana, pois sempre deve ser aperfeiçoada. Muitos ilustres pensadores já contribuíram com a construção do conceito de liderança e ao longo dos séculos essa virtude tem se provado uma das mais importantes em qualquer cenário, seja no empreendedorismo, nos negócios, na religião, no esporte, na política ou até no magistério. A importância da liderança é logo percebida por que nenhum negócio, empreendimento, ideia ou projeto pode ser iniciado e concluído com sucesso sem a presença de um líder capaz.
O conceito de liderança tem se revelado confuso nas últimas décadas por que o mundo inteiro, atualmente, sofre com uma carência de grandes líderes, embora exista uma abundância de ícones na mídia mundial. Essa confusão acontece por que confundimos fama e popularidade com capacidade de liderar. Outra relevância nesse aspecto é a ilusão de que liderança ocupa maior destaque apenas na política e nos negócios, ignorando seu impacto desde uma célula menor, a família, até projetos mais complexos como uma proposta de união entre nações.
Alguns afirmam que a liderança é um carisma e, portanto, uma capacidade inata. Outros afirmam que se trata de um talento e por isso pode ser adquirida a partir do treinamento e da experiência. Ambas as interpretações podem estar certas, mas um líder sempre será revelado pelas circunstâncias.
A ocasião e a necessidade são as principais nutridoras da liderança. Nesse sentido o líder, de fato, nasce através de uma escolha. E escolhas só devem ser realizadas a partir do conhecimento das opções.
Liderança não se trata de uma sentença para dividir o mundo entre quem ordena e quem é ordenado. A beleza dessa virtude é que os papéis podem e são alternados de tempos em tempos em acordo com as habilidades de cada um. Porém, a maioria de nós foge diante de oportunidades por que somos reativos e nos submetemos a autoridade da natureza de nossos modelos de pensamentos e até do nosso corpo físico. Tendemos a nos acomodar a certas circunstâncias e é nesse momento em que se separam os líderes dos que serão liderados.
O desenvolvimento da liderança, a partir da escolha, passa por estágios que servem para lapidar o indivíduo e torná-lo mais eficiente, desde que pratique com constância a arte de liderar. O primeiro dos estágios é entender o nosso papel como liderados. Todos já tivemos experiências com superiores na hierarquia que eram capazes de nos estimular a ir além de nossas potencialidades para um determinado fim. Também estivemos subordinados a pessoas sem o menor senso de direção e isso frustrou nossas expectativas em vários momentos.
Nesses momentos de frustração, alguns de nós nos tornamos insatisfeitos e outros se acomodaram. Eis aqui a presença do elemento “escolha” e o previsível resultado. A insatisfação é a chave determinante para que o espírito de liderança surja no indivíduo. Um líder jamais estará satisfeito, pois essa é a condição determinante para que tenha sucesso em cada desafio que surge. Satisfação nos torna relaxados e vulneráveis, índole imponderável para um líder.
Este indivíduo incomum não relaxa e nem se distrai de seu foco. Ele escolheu conduzir as mudanças e não ser conduzido por elas e desenvolveu gradualmente a sensibilidade para ir além daquilo que é evidente, consensual e óbvio. É alguém que aprendeu como identificar suas habilidades inatas e as treina constantemente.
Uma certeza pode se extrair de todos os ensinamentos sobre liderança: qualquer um pode ser líder em uma questão, mas ninguém pode liderar em qualquer questão! Podemos verificar isso ao constatar que um líder entre subordinados em uma empresa pode ter seu papel invertido em outro relacionamento como, por exemplo, em seu próprio lar. Outro mito persistente em nossa sociedade atual é o de que o líder precisa ser especialista na tarefa em que lidera. Um líder não está preso a essa condição, pois sua maior qualidade é extrair resultados de outros indivíduos, estes sim, precisam ser especialistas na atividade.
O poder do líder está sua capacidade de inspirar, estimular e, sobretudo, animar outros indivíduos para que determinado objetivo seja conquistado. E ele o faz por meio de seu modelo, jamais por sua autoridade. A função do poder é servir a uma causa e é só nesse sentido que um líder pode ser um “servidor”. Esse indivíduo é destacado por sua capacidade de corrigir rotas e erros sem ofender a ninguém e de orientar sem o recurso da humilhação. Ele é capaz de realizar essa proeza por que entendeu, afinal, o sentido da palavra “companheiro” que significa, antes de tudo, compartilhamento.
Um líder compartilha suas vitórias e carrega sua equipa ao topo com ele. Pessoas oportunistas e dissimuladas não podem ser comparadas a líderes, pois afastam o respeito de sua equipa que sempre estará descontente por ser obrigada a segui-lo. Reconhecemos um líder quando nos alegramos com suas ideias e a maneira como conduz a execução das tarefas.
Para resumir os estágios da construção da habilidade de liderar, darei destaque a certas práticas que conduzem, comprovadamente, a excelentes resultados. Um líder precisa, primeiro, estudar e definir sua própria identidade, ou seja, conhecer suas próprias limitações e habilidades. Não somos todos bons em tudo e, tampouco, ruins em tudo. Conhecer a nós mesmos é tão importante quanto conhecer o empreendimento a que nos propomos a realizar.
O segundo estágio é a definição do rumo que queremos dar a nossa existência. Para onde nos guiaremos, o que anima a nossa busca, o que pretendemos perseguir de fato? São perguntas que vem a mente do líder em cada desafio que surge em sua rotina. Um terceiro momento nessa construção vem a ser a criação de uma rede saudável de relacionamentos. Para isso, o líder deve dominar a arte da comunicação. E comunicação é tanto ouvir, quanto falar!
Quando o líder percebe que não domina este campo, logo toma uma decisão em acordo com a circunstância: conduz alguém com essa habilidade ou treina incansavelmente até ser ele mesmo capaz de executar a tarefa.
Na sequencia, no quarto estágio, o líder será capaz de construir parcerias de qualidade. Novamente o conceito real de “companheiro” surgirá como determinante para o sucesso. O parceiro que compartilha conosco de nossa convicção, torna o peso de um desafio mais suportável. Não ocorre o mesmo quando alguém apenas se submente, mas não compreende. Este último se tornará no bloqueio que impedirá o surgimento de qualquer ideia que leve ao resultado desejado.
Por último, o indivíduo que escolher desenvolver a liderança em si mesmo a essa altura já estará diante do maior dos pesadelos para um líder. Ao colecionar resultados positivos, é comum que nos acomodemos e relaxemos um pouco. Com isso nos tornamos vulneráveis aos detalhes. Pequenas mudanças, quase imperceptíveis, são como o pedregulho que nos impõe a queda quando escorregamos sobre ele. Repetindo! Um líder jamais relaxa e jamais está satisfeito. Só desse modo é que somos privilegiados por grandes revoluções tecnológicas dos últimos tempos. Alguém decidiu que a roda não era suficiente, que a lâmpada não bastava e que o espaço também precisava ser explorado.
O assunto ainda poderia preencher centenas de milhares de páginas e nunca seria esgotado. A liderança é um constante construir e praticar. Mas, não custa repetir antes de encerrar esse artigo. Um líder sempre terá melhores resultados quando ele próprio for o modelo de seus preceitos e a tentativa de animar aos outros será infrutífera se ele mesmo não estiver animado com o seu desafio. Em outras palavras… Pratique a liderança!