O que é tem a ver o tema de Bullying com ratos? Parece uma associação impossível e um tanto ou quanto alternativa mas a verdade é que tem tudo a ver.
Dado que o tema tem cada vez ganho mais atenção por parte do mediatismo e na sua maioria com desfechos trágicos, muitos investigadores com backgrounds em sociologia e psicologia decidiram ajudar na análise deste fenómeno intemporal. Para isso, decidiram levar a cabo um estudo sobre uma população de ratos.
Mas antes de avançarmos no estudo atentemos na definição deste tema controverso. A palavra “Bullying” caracteriza um conjunto de atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetitivos, adotados por um indivíduo ou grupo de indivíduos contra outro(s), sem motivos evidentes, causando dor e sofrimento, dentro de uma relação desigual de poder, gerando intimidação.
Na tentativa de compreenderem mais sobre este fenómeno e a fim de perceberem se este comportamento era apenas exclusivo dos seres humanos, e quais os seus impactos psicológicos neles, investigadores da Universidade de Rockefeller realizaram um estudo com uma população de ratos.
Nessa atividade experimental foi simulado um cenário de um pátio escolar onde um pequeno rato foi colocado numa jaula com diversos ratos maiores e mais velhos, que iam sendo substituídos a cada dez dias. Como os ratos são animais territoriais cada nova chegada ocasionava uma disputa que era sempre perdida pelo novo ocupante da jaula. Após o confronto os investigadores separavam os animais fisicamente através de uma grade que permitia que o animal perdedor visse, ouvisse e sentisse o cheiro do outro, criando uma experiência de stress associada aos outros ratos. Passado um dia, o rato perdedor era colocado na presença de outro rato não ameaçador, todavia este acabava por reagir como se fosse e procurava eliminar qualquer tipo de interação. Nessa recusa de interação o rato desenvolveu até um comportamento persistente de afastamento e quietude numa parte específica da jaula, comportamento esse, ao qual os investigadores designaram por “congelamento”.
As conclusões eram óbvias: todos os comportamentos do rato perdedor indiciavam medo e ansiedade. Nesse sentido, e de forma a compreenderem fisiologicamente o que tinha mudado os investigadores propuseram-se a analisar o cérebro desses ratos em particular, tomando atenção particular à parte do meio do córtex pré-frontal que é associada ao comportamento social e emocional. Os resultados foram extraordinários. Os investigadores descobriram que a expressão dos recetores de vasopressina havia aumentado, tornando os ratos mais sensíveis a essa hormona, que é encontrada em altos níveis em ratos com distúrbios de ansiedade.
De forma resumida, da mesma forma que estas descobertas sugerem que o stress social crónico afeta o sistema neuro-endócrino dos ratos, fundamental para comportamentos sociais como o cortejo, ligação entre pares e comportamento paternal, também nos humanos isto se verifica, levando no nosso caso a consequências como fobias sociais, depressão, e ansiedade.
Mas, nem tudo são más notícias! Da mesma forma que os investigadores concluíram que o stress era causado pelo Bullying e que esse stress poderia degenerar em desordens psicológicas mais complexas, também se preocuparam em procurar a resposta à pergunta mais importante de todas: como é possível minimizar os seus efeitos?
Para responderem a esta questão uma nova experiência foi realizada. Os ratos que anteriormente tinham sido sujeitos a stress induzido foram sendo sequencialmente integrados em gaiolas com diversões e comida de grande qualidade, sendo acompanhados ao longo do tempo a fim de perceber a sua evolução. Ao mesmo tempo, outros ratos com iguais níveis de stress induzido foram colocados em gaiolas vazias e sem qualquer tipo extra de conforto, sendo igualmente analisados.
Uma grande conclusão resultou deste estudo e todos os investigadores ficaram extraordinariamente surpreendidos: os ratos que foram integrados na comunidade e na gaiola com todas as regalias a que tinham direito, nomeadamente conforto e comida, revelaram passado 2 semanas melhorias evidentes em relação à sua ansiedade, e a longo prazo, após análise dos seus cérebros, verificaram uma regressão da expressão dos recetores de vasopressina (responsável pela ansiedade). Por outro lado os ratos mantidos em isolamento e com um ambiente externo pouco confortável em nada melhoraram a sua ansiedade, tendo-se até verificado o seu agravamento ligeiro.
Destas duas experiências muitas foram as conclusões extraídas e extrapoladas para o comportamento humano, sendo comparadas com casos clínicos detalhadamente descritos onde todos os pontos foram comuns em termos de comportamento.
Em resumo é importante não esquecer duas grandes conclusões derivadas das experiências realizadas com estas pequenas criaturas:
- O Bullying é real e tem repercussões psicológicas e físicas.
- É possível superar todas as consequências do Bullying desde que se providencie o acompanhamento e integração constante de forma progressiva, de quem sofreu junto dos seus semelhantes e das suas atividades de lazer.
Mais uma vez se prova que a natureza tem as suas formas, quase mágicas até, de se autorregenerar e corrigir comportamentos nefastos.
Juntos tudo é possível. Juntos somos mais fortes!