Numa manhã qualquer, enquanto o Tejo reflete a luz de novembro, milhões de portugueses digitam, sem pensar, as mesmas sequências de caracteres para aceder às contas bancárias, emails e redes sociais. “admin”. “123456”. “password”. Não são passwords. São convites abertos para quem quiser entrar.
Um estudo recente, baseado em dados de “data leaks” públicos e repositórios da dark web, confirma, Portugal não escapa à regra global. As passwords mais utilizadas no país são tão previsíveis como o sol do Algarve em agosto. E, tal como um castelo de areia, a segurança digital de muitos desmorona-se com a primeira onda de um ciberataque.
O Top 20 das passwords em Portugal, Um Espelho da Negligência Digital
Top 20 passwords em Portugal (2025)
| Rank | Senha | Número de Ocorrências |
|---|---|---|
| 1 | admin | 127.989 |
| 2 | 123456 | 75.756 |
| 3 | 123456789 | 33.823 |
| 4 | 12345678 | 31.047 |
| 5 | 12345 | 21.187 |
| 6 | password | 18.140 |
| 7 | tomase12 | 14.753 |
| 8 | jorge123456 | 13.330 |
| 9 | porta123 | 13.130 |
| 10 | zonnet | 11.354 |
| 11 | 12345678910 | 10.358 |
| 12 | sporting | 10.085 |
| 13 | canhouto | 9.659 |
| 14 | 1234567890 | 9.463 |
| 15 | benfica | 9.045 |
| 16 | lunatiku69 | 8.968 |
| 17 | lucastro | 8.936 |
| 18 | Password | 8.833 |
| 19 | 1qazxsw2 | 8.291 |
| 20 | pedrinho1 | 7.920 |
O Que Revelam Estes Números?
Os dados, analisados por especialistas em cibersegurança, mostram que “admin” lidera o ranking, seguido de perto por sequências numéricas simples como “123456” e “123456789”. Mas o que salta à vista é a presença de termos tipicamente portugueses, “porta123”, “sporting”, “benfica” e até “canhouto”, um apontamento de que, mesmo na era digital, não abandonamos as nossas referências culturais.
E não é só em Portugal que a criatividade falha. No Brasil, por exemplo, o top 20 é dominado por “admin”, “123456” e “102030”, com destaque para “123mudar” e “mudar123”, uma ironia dolorosa, já que “mudar” é exatamente o que esses utilizadores não fazem.
Porque é que Isto é um Problema?
Cada password fraca é uma porta aberta. Ataques de phishing, roubo de identidade, fraudes bancárias, tudo começa com um descuido que parece inofensivo. Segundo a Agência Europeia para a Segurança das Redes e da Informação (ENISA), mais de 60% dos ciberataques em 2025 exploram credenciais frágeis ou reutilizadas.
Tomás, Jorge, Pedro e Maria, nomes comuns que aparecem nas passwords, não imaginam que, ao usar “tomase12” ou “pedrinho1”, estão a oferecer as suas vidas digitais em bandeja de prata.
Como Proteger-se? O Guia (Não Secreto) para uma password Segura
passwords Longas e Complexas
- Mínimo de 12 caracteres, com letras maiúsculas, minúsculas, números e símbolos.
- Exemplo, “Lisboa@2025!Fado” é muito melhor do que “123456”.
Nunca Reutilizar passwords
- Cada conta deve ter uma password única. Reutilizar é como usar a mesma chave para a casa, o carro e o cofre.
Ativação da Autenticação Multifator (MFA)
- Mesmo que a password seja descoberta, um código enviado para o telemóvel ou email adiciona uma camada extra de segurança.
Utilizar um Gestor de passwords
- Ferramentas como NordPass, Bitwarden ou 1Password geram e guardam passwords complexas automaticamente.
Atualizar Regularmente
- Mudar passwords de 3 em 3 meses, especialmente em contas sensíveis como bancos ou emails.
A Segurança Digital é um Compromisso de Todos
A questão não é apenas técnica, é cultural. Em Portugal, como em muitos países, há uma falsa sensação de segurança, “Isso só acontece aos outros”. Mas os dados mostram o contrário.
Escolas, empresas e até o governo têm um papel fundamental na educação para a cibersegurança. Campanhas de sensibilização, workshops e até disciplinas escolares sobre segurança digital poderiam fazer a diferença.
Num mundo onde a identidade digital vale tanto como a física, “admin” não pode ser a chave do nosso futuro. A segurança não é um luxo, é uma necessidade. E, como diria Pablo Neruda, “Podes cortar todas as flores, mas não podes impedir a primavera de aparecer.”. Que a nossa primavera digital comece com passwords fortes, consciência coletiva e a certeza de que, às vezes, o mais simples não é o melhor.