Refood – reutilização de bens alimentares
De acordo com a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) um terço dos alimentos produzidos no mundo é desperdiçado a cada ano, em conjunto com toda a energia, mão-de-obra, água e produtos químicos necessários à sua produção.
O desperdício alimentar é uma realidade em Portugal cujos dados vão sendo conhecidos no decorrer dos estudos realizados sobre a temática. Num dos últimos estudos elaborados em 2012 concluiu-se que Portugal desperdiça um milhão de toneladas de alimentos por ano, o que corresponde ao desperdício alimentar por pessoa de 97kg/ano.
A verdade é que tanto este como outros estudos são sempre acompanhados com choque por parte da comunidade, todavia, passado o tempo necessário para a poeira assentar, tudo se mantém igual e a indignação continua a não ser transformada em ação.
Mas, nem todos são assim. Hunter Halder, não se resignou à condição de impotência e decidiu agir. Com a sua bicicleta e uma visão simples – recuperar as sobras alimentares dos estabelecimentos de restauração do seu bairro, a fim de as entregar a quem mais necessitava – a 9 de Março de 2011 fez nascer o projeto Refood.
Desde o início, o projeto revelou possuir uma força integradora e unificadora, inspirada na dedicação, esforço e paixão do seu fundador e bastou apenas um mês após o começo do projeto para que a ele se tivessem associado 30 restaurantes parceiros e 30 voluntários, tendo-se obtido não só os objetivos a que se propuseram inicialmente – reduzir o desperdício alimentar e combater a fome -, como também alcançar consequentemente um terceiro muito importante – o aumento da solidariedade e reforço de laços comunitários.
A sua evolução tem sido gradual mas muito positiva, podendo-se observar que nos 30 meses desde o seu lançamento, os iniciais 30 voluntários passaram a ser mais de 500 (trabalhando 2 horas por semana), os parceiros da restauração mais de 100, e os beneficiários ultrapassavam os 500 (para os quais se estima o custo real de menos de 10 cêntimos por refeição).
O primeiro núcleo físico foi criado no dia 7 de Janeiro de 2013, quando a equipa da Refood Telheiras entrou em pleno funcionamento. Alguns meses depois, foram realizadas as primeiras ações de divulgação cujo resultado foi o florescimento de dezenas de novas equipas que trabalham arduamente para implementar e levar a bom porto o projeto nos seus bairros. Até ao final de 2013, entraram em funcionamento os núcleos do Lumiar, Estrela e São Sebastião da Pedreira e durante o ano de 2014 constituíram-se os de Belém, São Francisco Xavier, Carnide, Olivais e Parque das Nações, tendo estes gerado motivação para que no fim desse mesmo ano mais 17 novos núcleos servissem os seus bairros. No fim de Abril de 2015, existiam já 16 núcleos servindo comunidades de norte a sul do país (Lisboa, Porto, Braga, Cascais e Algoz-Tunes, no Algarve).
A ideia foi sendo divulgada de boca em boca, através da partilha em comunidade e depressa se conseguiu por intermeio destes núcleos e das suas pessoas cumprir os objetivos de replicação e tornar Lisboa na primeira cidade do mundo sem desperdício de alimentos preparados, enquanto paralelamente se contribuiu para a redução da fome.
Em cada uma destas comunidades existem centenas de voluntários e muitos parceiros envolvidos, e todos têm consciência de que para operacionalizar corretamente este projeto, não poderia ser de outra forma. Existem, hoje, mais de 2000 voluntários, 700 parceiros de alimentação, dezenas de parcerias com instituições públicas e privadas e parceiros nacionais a ajudar a tornar viável esta ideia.
Em suma, a Refood define-se como um movimento comunitário independente, 100% voluntário, conduzido por cidadãos e integrado numa IPSS, cujo objetivo consiste na recuperação de comida em boas condições para alimentar pessoas necessitadas. A sua orientação está totalmente voltada para a comunidade, operando a partir da própria comunidade, sem salários, com custos baixos e alta produtividade, não detendo bens ou investimentos que não sirvam a sua missão.
Os seus valores são partilhados por todos os voluntários, dado se constituírem como as linhas orientadoras do seu trabalho. São eles:
Igualdade: Todas as pessoas têm o direito a serem respeitadas e alimentadas.
Respeito: As relações humanas devem ser positivas, e nelas deve existir respeito. É necessário que toda e qualquer pessoa seja uma força visível e constante de benevolência na comunidade.
Inclusão: As pessoas e os recursos são essenciais e devem contribuir para uma comunidade mais solidária.
Sustentabilidade: O impacto ambiental do projeto é sempre tido em consideração de forma a ser o menor. As pessoas são respeitadas na sua disponibilidade e a auto sustentabilidade financeira é desejada tanto a nível local, regional e nacional.
Otimismo: A boa vontade e esforço organizado permitem acabar com o desperdício de alimentos e com a fome no mundo.
Com a sua visão de espalhar este conceito e valores por todos os bairros urbanos do planeta, a Refood é um projeto ambicioso, alcançável com a boa vontade e dedicação de todos os voluntários e restaurantes que juntos colaboram e cooperam para um mundo melhor, mais justo e mais equitativo.